Pessoas estranhas #88 - o Sr. Arquitecto José António Saraiva

by - sexta-feira, janeiro 05, 2018

Este "senhor" que se julga Deus, dono da razão, e detentor de todo o conhecimento sobre a mente e corpo humanos, diz o seguinte:

"Vi um documentário aterrador. O pior que se pode ver antes de ir para a cama. O documentário era sobre um transexual. (...)

Depois da operação, entrevistavam o fulano que se queria transformar em fulana. Numa voz estranha, deu umas respostas que tornaram óbvio estarmos perante uma pessoa débil mental. Dizia umas patetices. Mostrava-se ansioso por se tornar uma mulher. Mas aí eu pergunto: se em vez de lhe operarem o corpo para se parecer com uma mulher, por que não optaram por tratá-lo psicologicamente para adaptar a mente ao físico que realmente tinha? (...)

Depois cortou o pénis, explicando que ia aproveitar uma parte deste para fazer o clítoris. Neste ponto, não consegui ver mais e mudei de canal. (....)

Se a sua cabeça já era confusa, tornar-se-á muito mais confusa depois da operação. Nunca poderão ter uma vida familiar normal: não podem ter filhos e qual é o homem que se vai casar com uma mulher que já foi um homem? Só por caridade alguém condescenderá em fazê-lo. (...)

Se um homem pensar que é uma galinha, os médicos não vão transformá-lo em galinha."

Podem ver o texto na íntegra aqui.
 
Bem. Aterrador é ainda existirem pessoas assim. Pessoas que acham que querer mudar de sexo, sentir-se no corpo errado, é doença mental, que se resolveria com uma terapiazinha, provavelmente com uns choques eléctricos. Ou prendê-los, abrir-lhes os olhos com uns palitos, e obrigá-los a ver cenas entre um homem e uma mulher - todos no corpo certo - a cupular, como deus manda.

Aterrador são estes velhos do restelo acharem que a normalidade é apenas aquilo que conhecem, aquilo que a sociedade lhes disse que era normal e que eles aceitaram sem dizer ai nem ui; é não admitirem que as coisas não são lineares, não são a + b, que o universo, e a mente, o cérebro, os sentimentos, as emoções, não são uma fórmula matemática.

Aterrador é chamar de débil mental a quem, numa atitude corajosa que ele nunca saberá o que é, mostrar ao mundo que não temos de ser infelizes, que devemos perseguir o que desejamos, viver na pele que queremos, que não temos de ficar presos uma vida inteira às convenções e à tal "normalidade" que nos impingem.

Aterrador é dizer que ninguém vai querer uma pessoa assim. Assim como? Que foi em frente quando existem pessoas como o senhor arquitecto que acham que deviam ter estado quietinhas? Que cumpriram o seu sonho? Que decidiram ser felizes? E por não poderem ter filhos, são pessoas incompletas? O objectivo primordial da espécie é parir? Gostar de nós próprios, não conta para nada?


Aterrador é comparar um homem ou uma mulher que estão a cumprir um sonho, num processo custoso, longo, demorado e controverso, em que muito provavelmente foram criticados e ostracizados pelo mundo inteiro, com a pretensão de ser uma galinha...


Aterrador é partilhar este planeta com pessoas cuja mente ficou presa no séc. XIX e que ainda se auto-intitulam de liberais. Se cada um se metesse na sua vida, isso é que era bom. Se deixassem os outros serem felizes da maneira como são, se aceitassem a diferença, o mundo era um lugar bem melhor. Se vos faz impressão, ignorem, deixem-nos ser. A indiferença é melhor do que a promoção da opinião odiosa.

Aterrador é você, senhor arquitecto. E se não fosse essa tacanhez e pequenez, não teria essas trombas.



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