Imperfeições
"Mas, vendo bem, e se me é permitido um lugar-comum corriqueiro, não será que até as coisas inúteis têm cabimento neste mundo longe-de-ser-perfeito? Se desta vida imperfeita eliminássemos tudo o que é inútil, a imperfeição deixaria ela própria de fazer sentido."
in Sputnik, Meu Amor, de Haruki Murakami
Adoro coisas imperfeitas. Adoro o comum. Tudo o que dá equilíbrio à existência e nos liga à Terra.
Adoro uma ruga, um papel deixado no chão, uma ferida a sangrar, um defeito, um complexo.
Adoro o coxo, o velho, o cego. A que se ri demasiado alto, a tímida, a desequilibrada, a viúva, a gorda.
O vento gelado de que ninguém gosta, o piso escorregadio, o trânsito.
Olho, analiso, a atenção prende-se-me, sinto.
Sinto-me sortuda por ser espectadora de todas as imperfeições que se passam em mim, à minha volta. Procuro-as, mantêm-me os pés assentes no chão.
E não consigo imaginar o mundo sem elas.
3 comentários
e não é que a rapariga tem mesmo jeito pa isto!? deves ser é a unica pessoa que eu conheço que gosta do trânsito mas pronto :P
ResponderEliminarSim, as imperfeições é que dão alegria à vida! Um mundo perfeito seria imperfeito demais :)
ResponderEliminarPor acaso sou um defensor do perfeccionismo, acho que as coisas deviam ser o mais perfeitas possíveis, mas como é óbvio isso é simplesmente utópico, e é a tentarmos ser perfeitos que as imperfeições se destacam,cada qual é como é, e cada coisa é como é, o facto de gostarmos ou não, no fim, acaba por ser irrelevante, porque quanto mais depressa aceitarmos aquilo que somos, mais depressa andamos com a nossa insignificante vida para a frente.
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