Like a Stone

by - quarta-feira, fevereiro 04, 2009


"On a cobweb afternoon
In a room full of emptiness
By a freeway
I confess I was lost in the pages
Of a book full of death
Reading how we'll die alone
And if we're good we'll lay to rest
Anywhere we want to go

In your house
I long to be
Room by room patiently
I'll wait for you there
Like a stone
I'll wait for you there
Alone"


Audioslave - "Like a Stone"
in Audioslave (2002)


A espera é algo a que muitos de nós não estamos habituados. Perdemo-nos em pensamentos nada abonatórios. Pensamos naquilo que não devíamos. Tornamos a espera mais dolorosa do que à partida iria ser. E a culpa é nossa, só nossa, que não aprendemos a esperar. Ou não fomos ensinados. Ou estamos apenas mal habituados.
Então, quando as coisas não vêm ter connosco ao ritmo que deviam, ou conforme queremos, a espera parece cada vez mais longa, e cada vez mais solitária.
Navegamos pelas tardes vazias, pelas noites frias, em mares cada vez mais ondulados, e onde é cada vez mais difícil mantermo-nos de pé.
E apesar de tudo, continuo como uma pedra, firme, expectante, esperando não morrer sozinha.

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4 comentários

  1. Esperar é uma merda. Esperar sem fazer nada pelo menos. Se temos que esperar mais vale arranjarmos alguma coisa para fazer no entretanto, se não arriscamo-nos a morrer de tédio.

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  2. Os mares cada vez mais ondulantes levaram-me até à ilha onde não se morre só.

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  3. 1/2

    Mais uma vez as nossas reflexões cruzam-se e em parte chocam. Concordo que a espera é um problema, mas não diria que nós não aprendemos a esperar. Diria que o problema é precisamente o termos aprendido a esperar. Repara. Toda a vida é tensão para algo, é movimento, é estar a caminho de. Mesmo a pessoa absolutamente entediada, sem nada para fazer, quer ainda livrar-se do tédio (ou então gozá-lo, se é que há tal pessoa e se é que o tédio não se anula logo que alguém decida gozá-lo). Assim sendo, estando nós sempre virados para algo e dirigidos a isso, o que é a espera de que aqui falamos? A espera é uma tensão que se procura anular enquanto tal. A espera é o não querer estar a caminho, mas querer estar já lá. A espera é a recusa do dinamismo da vida, é o ficar obcecado com a falta e perder de vista que esta é intrínseca. É o não querer o fardo de agir, mas querer já o alívio de gozar. A espera é de algum modo uma recusa da vida, um querer uma outra vida, a vida sonhada, onde se perde o atrito, onde se perde a gravidade, onde se perde aquilo que nos localiza (pois é a falta e o movimento que dela resulta que nos localiza, um movimento pesado, que nos permite exprimir a nossa força vital).

    Eu diria que o objectivo da vida não deve ser alcançar algo, ter a posse firme do que nos parece desejável e delicioso. Não devemos esperar isso e recusar tudo o resto como obstáculo. Aí a vida torna-se-nos simultaneamente pretexto para algo e obstáculo a esse mesmo algo. Caímos numa situação de asfixia, de dilaceramente interno. É a dor de que falas, a dor que provavelmente todos conhecemos. A dor da espera, umas vezes mais desesperada do que outras. Aqui precisamente está o paradoxo. A espera cai facilmente no desespero, possibilita-o. Ao depor as nossas esperanças e o nosso optimismo no ausente, as nossas esperanças e optimismo tornam-se periclitantes, facilmente o esperar se torna pessimista, espera algo que não é garantido, que pode ser até improvável ou impossível. E então des-espera, deforma a espera, transforma-a num monstro que nos assombra e que, como investiramos a vida nessa espera, agora toda a vida é uma assombração.

    Se a espera é digna de ser pateada para fora do palco da nossa vida, qual a alternativa? Não me parece que a alternativa seja arranjar qualquer coisa para fazer entretanto, de tal modo que se mate o tempo. Porque haveríamos de matar o tempo se o tempo é aquilo mesmo que nós somos, essa esparregata da alma que vai lá atrás buscar o que fomos e lá à frente buscar o que seremos? Não, não me parece boa ideia matar tempo. É criar o hábito de nos destruirmos, é recusar a tensão para algo, tentando distrair-nos dela, até que a coisa deliciosa lá apareça por si mesma, e nos demos com ela já à nossa espera, na sala de estar da nossa vida. Exagero um pouco, como é habitual, mas acho que o exagero nos permite ver melhor os movimentos anímicos que estão presentes em nós.

    Ora, por outro lado também não me parece boa ideia tentar alcançar uma apatia universal, de tal modo que nos esquecemos daquilo para que tendemos, de modo a anular assim a falta. Isto parece-me má ideia porque mesmo aí há uma tendência e uma falta, orientadas para a supressão da falta - e no entanto procura anular-se a complexidade da vida, que lhe é intrínseca, transformar-nos em autómatos em relação a tudo, empobrecendo assim incrivelmente a nossa vida. É uma forma de sermos vencidos pela falta, arrasados de tal modo que procuramos destruir tudo, mesmo a própria vida. É uma vez mais não aceitar a vida como tensão, como estar a caminho. Uma recusa deste género é o que está em causa também naqueles que querem colher cada dia, fechando os olhos para o amanhã. Precisamente a motivação para esse aproveitar o dia ou o momento (numa interpretação ainda mais redutora da nossa vida) reside no amanhã e no peso que ele traz consigo.

    Protréptico

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  4. 2/2

    O momento delicioso que se saboreia é um refúgio ou um abrigo da complexidade e dificuldade da vida e a delícia consiste essencialmente nisso. Nesse sentido, a alegria de toda esta geração que quer viver no hoje é uma alegria que assenta na cobardia. Com isto não digo que seja ilusória, digo apenas que tem uma motivação concreta e desapercebida: a inaceitação da vida.

    Portanto, o importante parece-me ser não arranjar algo para fazer entretanto, nem desvalorizar a tensão para um futuro melhor, mas sim apropriarmo-nos dessa tensão, apropriarmo-nos desse entretanto. É assumir o agora como um momento em que somos chamados a agir, somos chamados a ser construtores de nós mesmos. Por isso o objectivo não deve ser alcançar, mas sim agir da forma mais perfeita possível. Afinal, a vida será sempre um entretanto (e ainda bem que o é, porque qualquer outra coisa é inimaginável e eu gosto do imaginável, mesmo que pouco nítido). A vida mais desejável parece-me ser, pois, a do famoso arqueiro estóico, que aponta a um alvo determinado (mantém a tensão para o futuro, para alcançar algo), mas que se torna indiferente ao acertar no alvo ou não, isto é, coloca toda a importância no visar o alvo da forma mais perfeita. Acho que nós devemos colocar toda a importância no a caminho, indiferentes ao sermos bem-sucedidos, preocupados com o que fazemos até lá. Isso é abraçarmos a natureza débil da vida, do ter algo em falta, mas ao mesmo tempo aguentar ao máximo a plenitude de estar a viver. É aceitar o mínimo para ter o máximo. E cada vez que falharmos um alvo depois de nos termos aperfeiçoado ao visá-lo, temos uma nova ocasião para visar, não na esperança de no final do percurso termos muita mais força para obtermos o que queremos, mas acreditando que tudo o que obtemos é o resultado dos nossos esforços e os seus efeitos na nossa interioridade. O mais importante (e o mais difícil) é perceber que a coisa mais deliciosa de todas vem de dentro e não de fora. Sou eu que construo o sentido da vida. Este não se recebe.

    O delírio verborreico já vai muito avançado, mas eu sinto sempre necessidade de legitimar minimamente as minhas teses aparentemente absurdas. Por outro lado, queria ainda falar brevemente sobre a nossa espera de não morrermos sós. Também aqui acreditamos numa espécie de messias que nos foi prometido, quer já conheçamos o seu rosto, quer não. No entanto, acho que a não-solidão tem de ser uma construção nossa, senão mesmo acompanhados estamos sós. Mesmo encontrando alguém, se não houver um desenvolvimento íntimo nosso, o sentido da sua presença será distorcido pela solidão passada e pela solidão futura, que se antecipa. Vivemos na tensão sôfrega de estar acompanhados o maior tempo possível, no maior grau de acompanhamento, procurando sofregamente incorporar o outro na nossa individualidade débil e instável, incapaz de estar por si. Nessa medida, na alegria da presença do outro não predomina a alegria do encontro e da partilha, mas o alívio sempre precário do abandono sufocante que constitui o núcleo da nossa intimidade. Acho, por isso, que o caminho deve ser o contrário: a nossa esperança deve estar em nós, na construção de nós mesmos por nós mesmos, e que o outro deve ser encontrado a partir daí, como alguém com quem possamos partilhar isso. A nossa esperança não deve estar no outro que trará o sentido para a nossa vida, mas sim em nós próprios, como construtores do mesmo sentido. O outro é alguém que entretecemos nesse sentido, alguém que recebemos a partir daí, não sofregamente, como quem precisa desesperadamente de alguém, mas alegremente, como um incremento do movimento em que já antes nos puséramos. O encontro deve, então, ser o entretecimento de dois esforços de construção do sentido, não deve ser um alívio da vida, uma passividade deliciosa, mas sim um incremento ainda mais intenso da nossa actividade interior. Só assim a nossa vida será verdadeiramente fértil.

    Protréptico

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