Somos um país de terceiro mundo

by - terça-feira, setembro 10, 2013

Há alguns dias atrás tive uma das piores dores (físicas) que alguma vez me atormentaram. Uma dor aguda e insuportável na barriga acompanha por vómitos e que não me permitia estar sentada, deitada, ou de maneira alguma.

Depois de 3 horas a agonizar sem a dor passar, decidi que era hora de ir ao Hospital. O meu namorado, coitado, já chorava enquanto conduzia a toda a velocidade comigo a gritar desesperadamente no banco de trás.
Mal chegámos ao dito Hospital ele deixou-me à porta das Urgências e foi estacionar o carro. E aqui começou a novela.

1 - Portanto, como já disse, estava a agonizar de dores. Mas não podia sequer passar a porta sem dar os meus dados pessoais. Mal conseguia falar e nem conseguia estar em pé para olhar na cara o senhor que me estava a fazer as perguntas do outro lado do guiché, mas isso não o incomodou. E não foi só o nome e contacto, coisas básicas. Nome, morada completa, data de nascimento, idade (o senhor não quis fazer as contas), contacto telefónico, o número do SNS, qual era o meu problema, se tinha possibilidade de estar grávida, etc e tal (e era lento a escrever, isto demorou uns 10 minutos).

2 - Lá me mandou entrar para a "triagem 2". Pensei que era agora que me iam tratar o problema. É claro que não. Tive de repetir o meu nome, idade, o meu problema, se tinha possibilidade de estar grávida, para escolherem a cor da pulseirinha que me iam dar (laranja, já agora). Mais 10 minutos enquanto gritava de dor e tentava responder. Vomitei no balde do lixo da senhora. Isto fê-la andar mais depressa.

3 - Lá me mandou sair do gabinete e esperar lá fora. Encolhi-me junto à parede agarrada à barriga e fui  ignorada por mais 10 minutos. Quando finalmente me mandaram entrar, a enfermeira fez-me repetir tudo o que já tinha dito (o meu nome, idade, o problema, se havia a possibilidade de estar grávida (!!)...) enquanto vomitava no balde dela um líquido amarelo asqueroso. Entretanto o meu namorado regressou com a pulseira de acompanhante já enfiada, e ela diz-lhe: "Eh eh, ela está mesmo a sofrer! Vejo na cara dela que não é fingimento! Nós já sabemos distinguir, sabe?"
Será que estive ali meia hora em sofrimento para verem se eu estava a falar a sério? Se calhar devia ter largado a bílis nas fuças dela para ver se afinal era só cuspe.

4 - Finalmente decidiu por-me a soro para alívio das dores. O alívio veio passados uns minutos, finalmente! Agora era ser observada pelo médico. Mais meia-hora até ele chegar...

5 - "Hmm... Pode ser apêndice. Pode ser pedra nos rins. Pode ser intestinal... Façamos análises!" Então tirei o sangue, mijei para o copo, e disseram-me para esperar. E esperei, esperei, esperei. Passadas 2 horas apercebi-me que o tempo de espera estava em 7 horas para receber as análises. Portanto eu não conseguia estar em posição nenhuma, estar ali à espera estava a pôr-me pior, podia ter algo grave, não tinha nada no estômago, e tinha de aguentar 7 horas! Fui perguntar à enfermeira se podia passar mais tarde para recolher as análises, ou ligarem-me a avisar, e claro que a resposta foi negativa - "Ou fica aqui à espera ou não recebe nada!".

E eu fui embora, indignada. Fui para casa, deitei-me, dormi, e acordei muito melhor. No dia seguinte fui a uma clínica privada onde fui prontamente atendida e diagnosticada. Era pedra no rim. 

Acima de tudo, foi um dia triste. Foi a primeira vez que recorri a um Hospital e foi muito negro. O nosso sistema de saúde está pelas últimas. Eu era apenas uma paciente, mas bastava um olhar pela sala de urgências e perceber onde chegámos. Um casal idoso à espera da TAC do marido havia 6 horas, cheios de fome e fraqueza. Um paciente com uma doença terminal à espera há 4 horas para ser observado. Uma cigana que entrou aos berros de dores, com direito a cadeira de rodas e prioridade, e assim que a enfermeira virou costas calou-se, levantou-se e foi embora (tanta experiência a detectar fingimento...). Umas 10 cadeiras disponíveis para mais de 30 pessoas. Médicos a passar com cafés na mão a falar animadamente enquanto os pacientes penavam. Pedir informações e receber a resposta de toda a gente - "Isso vai ter de perguntar a outra pessoa". E mais, muito mais. 

Portugal é para quem tem dinheiro. Quem não tem, tem de se sujeitar às misérias do povo, como é o caso da Saúde. Uma vergonha.

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2 comentários

  1. Obrigado por seguires de volta ^^
    Qual? Uma gatinha que está ao meu colo, ou um gato que está no chão? :)

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  2. Credooo ! Sem dúvida que o nosso país está uma vergonha !
    Mas espero que estejas melhor a sério ! :s Beijinhos

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