Boas ideias #33 - matinés
Sou uma morning person. Todos os dias me levanto às 06h15 para treinar ou correr antes de começar o dia de trabalho. Às vezes custa, mas na maior parte dos dias faço-o com prazer e energia. Já o faço há tantos anos, que aos fins de semana acontece o mesmo involuntariamente: acordo muito cedo e acabo por despachar as tarefas domésticas cedíssimo, que realizo a ouvir música e a dançar como se ninguém estivesse a ver. Ora, isto significa que às 22h30 estou deitada com uma moca de sono descomunal. Ok, posso dizer que quanto mais velha pior, mas o facto é que eu sempre fui assim - durante a manhã sinto-me a Supermulher, ao fim do dia tenho 90 anos e uma mantinha nos joelhos.
Há uns tempos a Jamie Lee Curtis disse que recusava convites de tudo o que achasse tarde. Até recusou ir ao jantar dos últimos Óscares porque já apanhava a sua hora de deitar. E também disse que devia haver matinés para tudo, especialmente concertos. Achei completamente relatable.
A não ser que vamos a um festival, onde há concertos que começam durante a tarde (aqueles que quase ninguém paga para ir ver), não existem praticamente espetáculos durante o dia. Não estou a falar de eventos locais esporádicos que possam existir, e existem, e eu vou aqui aos da minha zona. Estou a falar, por exemplo, de ver Metallica na Altice Arena às 15h00. Ou às 17h. Ou mesmo às 19h. Impossível, não é? Mas porquê? A essa hora há transportes à farta, a energia está em altas, e é um espaço fechado, que interessa se é dia ou noite lá fora?
"Ah, mas a essa hora, mesmo ao fim de semana, há pessoas a trabalhar". Pois, também há pessoas que trabalham à noite. E mais, se eu quiser ir a um festival em Portugal, tenho de meter férias porque são tipicamente à quinta, sexta e sábado. Portanto, o que é mais conveniente para uns não o é para outros, o que invalida esse argumento. Quantos a outros argumentos, não os encontro e não consigo vislumbram quais poderiam ser.
É também uma questão cultural. Já fui a um concerto em Paris onde a banda principal atuou às 18h30 no Moulin Rouge. Já estive num festival em Inglaterra em que Metallica fechou o dia às 20h30 e às 22h30 estavam a expulsar as pessoas do recinto. No mesmo festival, às 11h00 da manhã seguinte estava a ver Volbeat. Por cá, parece-me que é tudo tardíssimo, e ainda por cima muitos começam com atraso. Até a Lorde, no último Paredes de Coura, perguntou em palco como é que os portugueses se aguentavam com estes horários de concertos.
Enfim, tudo isto para dizer que deviam haver mais eventos para morning people. Tenho a certeza que eu e a Jamie Lee Curtis não estamos sozinhas. Quero curtir as cenas com energia, com transportes disponíveis, com tempo à farta para chegar a casa. Quero sair de um concerto e ter restaurantes abertos, luz do sol, ou um pôr-do-sol, em vez de bocejos, olhos semicerrados da miopia exacerbada pelo período noturno e um desejo tremendo de estar debaixo dos lençóis. E sair de casa já de noite? Depois de estarmos no sofá? Com mantas? Como é que se faz isso de ânimo leve?
Everything is New, Prime Artists, Música no Coração, afins, ponham os olhos neste post. Está aqui o embrião duma ideia milionária.
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