O Músico Cego

by - sexta-feira, maio 01, 2009


"Durante este tempo, as árvores do jardim cochichavam por cima da sua cabeça e resplandeciam cada vez mais as luzes no céu imenso, de um sombrio tom azul. As trevas melancólicas invadiam a terra inteira e a tristeza ardente das canções de Jokhime penetrava na sua alma de mulher. E ela acalmava-se, pouco a pouco, como que vencida pelo mistério inocente desta poesia, pura, simples e franca."

in "O Músico Cego", de Vladimiro Korolenko (segundo reedição de 1971)


Puxada por carroças de lobos e raras aves exóticas, a música é um veículo de músculo, precisão, suavidade e intenção inigualáveis. Por ela nos juntamos e nos isolamos. Com ela, respiramos fundo, e acariciamos o fundo do poço de nós, com a ponta dos dedos. Um poço com água pelos joelhos, onde chapinhamos e atiramos água uns aos outros, com o sol do meio dia atingindo em força o alto das nossas cabeças. E de dentro do poço, gritamos e todos nos ouvem, cá fora. É o poder da música que fala, que transforma, que move, que sobe por paredes de pedra, tal lagarto vadio, buscando os últimos raios de sol do dia. Inutiliza-se o olhar, andamos por aí de braços descaídos, como cegos que sempre foram cegos, e sabem o caminho, sem a ninguém perguntar, guiados apenas pelo som de tudo, de tudo o que é música para os nossos ouvidos.


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