As mentiras que nos contam

by - segunda-feira, novembro 09, 2015

Em pequenos queremos brincar, mas outras prioridades são estabelecidas: comer os vegetais e a sopa, fazer os trabalhos de casa, para crescermos saudáveis e sermos alguém. Depois sim, a brincadeira, os amigos, as consolas. Mas primeiro as responsabilidades.

Em adolescentes queremos sair à noite, beber, experimentar coisas novas. É tempo de sair do armário, de gritar ao mundo que existimos. Mas também há que fazer os trabalhos de casa, estudar, fazer exames, pensar em entrar para a faculdade, ou em trabalhar. Para sermos alguém.

Como jovens adultos queremos ir a festas, conviver, estar em todo o lado ao mesmo tempo, somos incansáveis, donos do mundo. Mas há que fazer os trabalhos, apresentações e relatórios, estudar, tirar um curso superior, fazer mestrado. Há que ser alguém, não é?

Chegámos à idade adulta. Comemos os vegetais e a sopa. Fizemos os trabalhos de casa. Passámos o ano. Faltámos pouco às aulas. Entrámos na faculdade. Completámos o curso. Fizemos mestrado. Encontrámos trabalho. Temos um horário das 9 às 18h num escritório. Estamos sentados todo o dia atrás de um computador. Ou ao telefone. Ou a vender porta a porta. O melhor é quando chega o fim de semana, a folga, ou o dia de receber. O pior dia é a segunda-feira. Custa. Voltar à rotina. Olhamos para o relógio todo o tempo. Aturamos pessoas que não queremos aturar. Trabalhamos com pessoas que não escolheríamos para ser nossas amigas. Temos hipotecas e contas. Aparecem os filhos e as noites sem dormir. Estamos cansados. Esgotados. Não temos tempo para nós. Desejamos ter aproveitado mais quando tínhamos tempo e energia. Desejamos voltar atrás e fazer as coisas de outra maneira. Desejamos uma vida que não temos.

Já somos alguém ou ainda não?

É como diz a música dos GNR - mais vale nunca mais crescer. Ou mais vale seguirmos o coração desde tenra idade. Desde o momento em que pensamos por nós. Porque depois crescemos, e somos alguém, sim, mas iguais aos outros.

Hoje é segunda-feira e é um dia mau.
 





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