As coisas que se aprendem #93 - palimpsesto

by - quinta-feira, agosto 26, 2021

"Dormíamos naquilo que em tempos fora o ginásio. (...) Tinha havido ali danças; a música perdurava, um palimpsesto de sons inaudíveis, estilo sobre estilo, uma subcorrente de percussão, um lamento desolado, grinaldas feitas de flores de papel, diabos de cartão, uma bola espelhada a girar, empoando os bailarinos com uma neve de luz"

in A História de Uma Serva, de Margaret Atwood (1998)

pa·limp·ses·to
(latim palimpsestus, -i, do grego palimpsêstos, -on, raspado para escrever de novo)
nome masculino
1. Manuscrito em pergaminho que os copistas na Idade Média apagavam, para nele escrever de novo. [O recurso a técnicas de restauração de documentos permite, por vezes, fazer reaparecer caracteres primitivos.]
2. Obra cujo conteúdo revela traços, por transformação ou por imitação, de outra obra anterior.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Esta é um bocadinho rebuscada. No sentido do texto transcrito, palimpsesto poderá ser uma memória sonora e visual de outros tempos. A visão daquele ginásio trouxe à memória da narradora os sons e as coisas que ali prevaleciam outrora. Para quem está familiarizado com o livro ou a série A História de Uma Serva (The Handmaid's Tale) isto faz todo o sentido, já que aquelas mulheres sobrevivem num mundo que até há bem pouco tempo havia sido normal, e que agora serve um propósito completamente diferente. No entanto, os locais, os edifícios, as ruas, as casas, permanecem lá, como monumentos ao mundo antigo, e contendo em si a música, os risos, as conversas, que se faziam ouvir. No entanto, isto já aconteceu decerto a qualquer um de nós - é normal passarmos por uma padaria fechada e sentirmos o cheiro do pão acabado de fazer que já sentimos antes; ou passar por uma escola silenciosa, à noite, e o som das crianças no recreio nos parecer vivo na mente.




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