A novela dos refugiados

by - segunda-feira, setembro 07, 2015

Tanto se tem dito sobre a vinda de refugiados sírios para o nosso país. Já vi discussões acesas, insultos, opiniões de todo o tipo, e a minha é bem simples: não podemos fazer nada por eles.

Estamos a viver uma crise há anos. O nosso primeiro-ministro diz aos nossos jovens para emigrarem. O nosso desemprego é dos mais altos de sempre. Há 2 milhões de pessoas a viver no limiar da pobreza. Há quem tenha perdido a casa, todos os bens, o emprego, que viu a família desfazer-se. Não estamos em guerra, mas estamos muito mal, e quem está assim não tem manobra para ajudar.

É de uma hipocrisia tacanha que este país não tenha pensado duas vezes antes de desalojar famílias, tirar abonos e subsídios, aumentar os impostos e pedir-nos vezes sem conta para apertar o cinto, e agora de repente temos todas as condições para alojar milhares de refugiados. Terá alguma coisa a ver com o dinheiro que o Estado vai receber?

Não nos podemos comparar, é verdade. Estamos com o cu no sofá a mandar bitaites e não sabemos o que aquelas pessoas estão a passar, mas todos conhecemos, por exemplo, alguém que perdeu tudo, que trabalhou uma vida e agora não tem que comer, e é algo que nos é próximo. Sabemos que existe, passa-se nas nossas barbas, sabemos as histórias, conhecemos as pessoas. Não conhecemos os sírios e eles estão do outro lado do mundo, por isso é-nos difícil criar laços. Pomos os nossos em primeiro lugar, e não há mal nenhum. Primeiro queremos curar o país e as pessoas que conhecemos, e isso é normal! Para estendermos a mão, ela tem de estar inteira, ter força para puxar e destreza para guiar.

Não vou entrar nas diferenças religiosas, muito menos no medo irracional de deixar entrar muçulmanos "perigosos" no país. Para mim, não é por aí. Se fossem 200 mil portugueses a regressar de repente era a mesma coisa. É uma questão de não sermos capazes. Se não há espaço para os portugueses, como é que há espaço para todos?

É tudo uma jogada estúpida para ficar bem perante a Europa, mas ficar bem não vai meter comida na boca, pagar as contas e dar um tecto a quem precisa, seja de que nacionalidade for. Boa sorte a todos, de verdade.


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