Pessoas estranhas #135 - o ambíguo Papa Francisco

by - quarta-feira, março 17, 2021

O Papa Francisco tem vindo a ser adorado até por quem não é católico - a sua abertura para falar de temas até agora tabu, a sua vasta compreensão do mundo e a sua aparente empatia têm conquistado crentes e não crentes e, mais importante, tem dado mais visibilidade à igreja católica como instituição.

Há uns meros meses, o Papa Francisco disse algo que nunca havia sido proferido por nenhum Papa - que os homossexuais são filhos de deus, que não devem ser excluídos pela preferência sexual, que têm o direito a formar família e a casar (embora pelo civil). O mundo (os que não são grunhos, pelo menos) congratulou-se, bateu palmas, respirou de alívio, porque, enfim, foram palavras na direcção certa, que é a direcção da aceitação e da inclusão.

Há dois dias, o mesmo Papa Francisco, em comunicado, declarou que os homossexuais não se podem casar pela igreja porque é pecado. Que a união homossexual não se pode comparar à união entre homem e mulher, porque esta é capaz de gerar descendência. Portanto, deu uma no cravo e outra na ferradura.

Sendo assim, tudo na mesma aqui ao lado, onde se vive no séc. XVIII. Vamos lá a ver. Isto não é uma crítica directa ao Papa Francisco. Este, assim como todos os Papas antes dele, são marionetas, movidos por fios, comandados por uma instituição patriarcal ultra-conservadora e mega rica. Mesmo que o Papa Francisco pense diferente e seja aberto ao progresso, tem de ser segurado para não esticar a trela.

Que telhados de vidro tão grandes... um tamanho repúdio para com uma característica pessoal (não é uma escolha!) quando as histórias de abusos a meninos por parte dos membros do clero são não só uma certeza como uma bola de neve sem travão. Pensei que este deus que louvam fosse compreensivo, que recebesse todos de braços abertos, que adorasse todos os seres humanos, que apelasse à união. No entanto, pelos vistos, é divisório, julga, aponta o dedo, e diz que uns são mais meritórios que outros, não pelo seu carácter, mas por quem lhes vai à cueca.

Só tenho pena que a crença não seja assim tão fácil de repudiar por aqueles que acreditam. Existem tantos homossexuais católicos e não mereciam este tratamento, nem mereciam sentir-se cuspidos e renegados directamente para o inferno por não se sentirem atraídos por pessoas do sexo oposto como mandam as mentalidades bacocas.

Num mundo cada vez mais diverso, se a igreja não tiver a capacidade de se adaptar e de ajustar o discurso, irá perder relevância. Ninguém tem de se sentir diminuído por ser quem é, e é exactamente isso que eles estão a fazer. Ninguém deve ter vergonha da sua orientação sexual, da sua profissão, da sua nacionalidade, da sua idade, do seu género, da sua cor de pele, do seu corpo. Se eu seguisse ou fundasse uma religião, seria una, e o amor distribuído entre todos por igual. Somos todos filhos deste planeta, é isso que nos une, e mesmo assim estão sempre a arranjar maneira de nos separar. Esta definição do que é o bem e o mal está errada. O mal é prejudicar alguém, provocar dor, provocar medo, semear o ódio. Não há pecado nenhum em amar. E esta ideia contrária que espalham provoca-me medo e desconforto. Não há pecado nenhum em amar quem quiserem, foda-se!



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