Palavras do Abismo


Os Belako são uma banda que apareceu pelo meu Spotify. Ouvi algumas músicas e achei a sonoridade bastante agradável, com influência palpável dos anos 80 e que faz lembrar um pouco Joy Division, Sonic Youth ou The Clash. Tudo coisas porreiras, portanto. Estão algures ali entre o rock indie e o post-punk e dão vontade de tirar o pé do chão à primeira audição. Prometo.

Fiquei bastante surpreendida quando percebi que são espanhóis. Não é muito normal os nuestros hermanos exportarem este tipo de som, mas também os meus conhecimentos são muito limitados e provavelmente estou errada. Decerto a minha estranheza deu-se porque falam bom inglês... Foi uma boa descoberta, de qualquer maneira.

É claro que não podia deixar de destacar uma banda cuja voz principal é de uma mulher. Supreendemente, não me irrita. A voz de Lore Nekane Billelabeitia salta directamente para o meu parco repertório de gajas que suporto ouvir. Embora, atenção, toda a banda participe nos vocals. Mas gosto mais dela. A música em baixo é para ouvir de olhos fechados.

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A Michelle apareceu-me nas sugestões do Spotify, que como sabe que gosto pouco de ouvir gajas, apenas me sugere as melhores. Michelle é uma das melhores. Imediatamente fez-me lembrar uma versão feminina do Leonard Cohen, e só pela lembrança saudosa do falecido já me soube pela vida. Não se pode dizer que a sua voz é rouca, mas também não é limpa nem cristalina - se o fosse não estaria aqui a ser mencionada. É assim para o entaramelado, ali algures entre o estar bêbeda e num estado medidativo, mas atento, com algo de masculino.

As suas músicas são simples, a atirar para o melódico e carregadinhas de uma melancolia dark apenas impulsionadas por teclado, guitarra e sintetizador, num estilo a que chamam slowcore rock e lo-fi pop. Ela, no seu site, diz-nos que as suas canções são trágico-cómicas, melódicas, sentimentais, e com uma sombra de glamour. Caracteriza o seu mais recente álbum como mantendo a tradição do realismo negro combinado com humor em baladas íntimas entregues com letras cortantes e fatalistas. Vá, eu concordo com tudo.

Pelos vistos a senhora é bastante conhecida na Europa de Leste. Ela é Canadiana, mas os seus pais são emigrantes russos e, tendo o Russo como primeira língua, admite que as suas maiores influências são de lá. Até emprestou as suas músicas a alguns filmes feitos no Leste. O seu background até é cinematográfico - trabalhou 10 anos como realizadora antes de enveredar pela música. Este gosto pela imagem está patente nos seus trabalhos, nos videoclips, nas capas dos discos, nas fotografias.

Esta "Party Girl" foi a tal música que me apareceu primeiro no Spotify e que me levou a entrar no estranho mundo de Michelle. Teve uma capacidade imediata de me acalmar, e só por isso é de valor.

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Sempre fui um bocado reticente em relação à Sónia Tavares - a sonoridade dos The Gift, apesar de no passado ter sido fã do primeiro álbum - tem vindo a evoluir numa direcção que é mais electrónica e pop do que os meus gostos habituais. Por isso, desliguei-me da banda e deixei de prestar atenção.

Até que no dia 13 os vi ao vivo, e há que admiti-lo - a sua voz com rédea solta é qualquer coisa. É boa em estúdio, mas ganha uma dimensão ao vivo capaz de agarrar os mais reticentes (como eu), com uma personalidade poderosa e saltitante em palco trazendo toda a gente para o mesmo comprimento de onda. A voz dela ganha asas e atinge-nos de frente como um comboio com aquele timbre único, inconfundível e algo masculino.

Para além da Sónia acabei por me render a toda a banda. Eles sabem fazer a festa. Vê-se que adoram o que fazem, entregam-se para nos fazer também felizes.

Todas as fotos aqui.

Sónia Tavares The Gift
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Sim, este título foi uma fraca tentativa de trocadilho. Karen O é a vocalista e teclista dos Yeah Yeah Yeahs, banda já com 17 anos com muitos êxitos que decerto conhecem. Pode-se dizer que são uma banda de indie rock com toques de dança e post-punk.

Karen O é americana, mas nascida na Coreia do Sul, e é uma gaja cheia de talento e também de estilo, cujo arrojo fê-la ainda mais popular. Com mãe coreana e pai polaco, a mistura saiu-lhe esteticamente bem. A sua voz é limpa, melodiosa, e ao contrário de muitas do mesmo género, tem o condão de não me irritar.

Se tivesse de escolher uma música preferida dos Yeah Yeah Yeahs talvez escolhesse esta, Maps, de 2004, que até é sobre a sua antiga relação com o vocalista dos Liars, Angus Andrew.

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Róisín Murphy tem agora uma carreira a solo, mas foi como vocalista dos Moloko que a conheci e que lhe ganhei afecto. Esta bonita loiraça irlandesa tornou-se famosa quando foi lançado o grande hit "Bring It Back", onde aparecia esvoaçante num videoclip algo marado e psicadélico vestida como uma bola de espelhos.

E é assim que a vejo sempre - esvoaçante, com o seu cabelo a passear por todo o lado, com o seu corpo pequeno a ocupar todo o espaço com aqueles gestos num descontrolo controlado, como se isso fosse possível. A sua voz é suave, etérea, com algo de angelical. Como uma menina que acabou de amadurecer. E isto, aos 40 e tal anos, é um elogio de todo o tamanho.

Com a sua vertente dance com toques de vários outros géneros musicais, os Moloko conquistaram-me nos anos 90, e é uma pena terem terminado no início dos anos 2000. Ficam muitas recordações, incluindo este "The Time Is Now".


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Há quanto tempo é que esta mulher existe? Tenho a noção de que quando era adolescente já ela cantava há imenso tempo, e continua a dar-lhe forte e feio. A Alanis Morissette é uma gaja com G grande, talentosa, gira, com pinta e com uma atitude impecável.

A artista canadiana sempre foi sem merdas, sem manias da grandeza, competente... Promove uma vida saudável, pratica o Budismo, dá a cara por uma organização que dá apoio a pessoas com distúrbios alimentares, enfim, é uma voz de gaja que merece o aplauso não só pelas qualidades vocais, onde sobressai o seu timbre único e inconfundível,  mas também pelo modo de estar na vida.

Ela tem imensos êxitos que marcaram e marcam a sua carreira, mas tenho um preferido que tenho de destacar - "You Oughta Know". É a sua vertente mais rockeira a vir ao de cima, são os gritos vindos das entranhas e é a letra fantástica (supostamente inspirada num ex-namorado - nota-se a fúria palpável). Esta música já tem 21 anos. Credo.

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AnnLouice Lögdlund foi vocalista dos Diablo Swing Orchestra até 2014 e foi ao serviço da banda que interpretou um tema que gosto bastante - "Balrog Boogie".

Não gosto nada destas coisas. Bandas de metal com vozes de mulher não gosto nem de uma e quando se armam em cantoras de ópera ainda menos. Os Epica, por exemplo, nem posso ouvir. Distância, por favor. Arrepios de desgosto. Blargh. No entanto, esta música com a voz da AnnLouice é uma excepção - é divertídissima, apetece dançar e gritar com ela.

Categorizados como avant-garde metal, os Diablo Swing Orchestra têm várias influências e isso nota-se bem no tema. Tem um je ne sais quoi de jazz, clássico, swing e sinfónico que faz a coisa funcionar lindamente. E a letra é em latim!

AnnLouice está agora inteiramente dedicada à sua carreira na música clássica e é uma voz de gaja que eu suporto. Parabéns.

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Há muitos, muitos anos, em 1992, era eu uma cachopa pequena e saiu o álbum "Rock In Rio Douro" dos GNR. O meu pai, como fã da banda, fez-me ouvir aquilo vezes sem conta e basicamente crescei a ouvir, entre outras, a "A Pronúncia do Norte".

Os anos passaram e nunca me fartei desta música, muito por culpa de Isabel Silvestre, a mulher que acompanha Rui Reininho na voz da canção. Cantora e ex-professora, Isabel faz parte do grupo de cantares da sua terra e desde o momento em que cantou esta música tornou-se conhecida e fez participações com outros músicos. "A Pronúncia do Norte" tornou-se um hino da região e até mesmo do país.

Isabel carrega em si e na sua voz a nossa tradição. Ouvi-la arrepia e traz memórias que não sabíamos existir. Sentimos o peso da nossa história no seu timbre genuíno e cru. Emociona-me todas as vezes que a ouço, e não foram poucas. E assim, hoje, com 70 anos, Isabel merece ser aqui homenageada. Porque não é qualquer mulher que me arrepia a espinha.

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Os Nouvelle Vague são uma banda francesa de covers. Talvez sejam a banda de covers mais bem sucedida no mundo. Pelo menos não me lembro de outra banda assim, sem originais, que faça tours de sucesso pelo mundo inteiro. Os pilares da banda são dois homens, Marc e Olivier, e vão rodando de intérpretes femininas como quem muda de cuecas. Passar pelos Nouvelle Vague é quase uma rampa de lançamento para estas miúdas que depois se têm lançado a solo com sucesso.

Os arranjos das músicas são fantásticos, calmos, com muita mística, bossa nova e new wave, e muitas das vezes tive dificuldades em descortinar a música original por trás da cover, tal é o afastamento conseguido. As músicas "transformadas" são essencialmente dos anos 70 e 80, e as escolhas são de um bom gosto tal que só por isso merecem a menção: Joy Division, Depeche Mode, The Clash, The Cure, New Order, Billy Idol, Violent Femmes, The Police ou Soft Cell são algumas das bandas que viram as suas músicas "reencarnadas" pelas vozes (quase sempre) femininas dos Nouvelle Vague.

Portanto, aqui não consigo destacar uma voz específica, já que tantas mulheres passaram pela banda, mas consigo sim enaltecer o trabalho fantástico feito nestas covers apoiado por vozes femininas doces, sensuais, melódicas, que dão toda uma nova vida paralela aos originais de renome. Não é um trabalho fácil trabalhar sobre tantos êxitos conhecidos por meio mundo, mas eles conseguem-no.

Fiquem com uma fantástica cover de Billy Idol.

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Não sou fã de hip-hop, embora nos meus idos tempos de adolescência tenha passado por essa fase, na qual os Mind da Gap dominavam claramente as minhas preferências. Sim, vestia roupas largas da Resina e gorros de malha duvidosos, parecidos com os dos Smurfs.

Adiante, apareceu-me à frente a Capicua um dia destes (não a artista, mas a sua música) e não me agradou particularmente por, lá está, não ser fã de hip-hop. Mas uma música em especial chamou-me a atenção e tocou-me. É a "Sereia Louca".

Para além da musicalidade ser excelente, de tudo ser dito e feito nos tempos certos e com o tom certo, e de misturar 'portugalidades' como a guitarra e o fado, o mais me agrada é a letra. Fala de uma mulher, uma sereia, que sonha em pisar a terra, usar vestidos e sapatos, experimentar o beijo de um homem e a vida fora do mar. Sentir a liberdade. E apesar de lhe chamarem louca, porque a terra não é o seu lugar, ela arrisca, apesar da falta de ar, do seu canto que magoa os homens, das roupas parecerem tão apertadas... porque "pior do que o seu canto há-de ser o seu silêncio".

É bonito, melódico, e um hino à emancipação da mulher e à liberdade de escolha. Porque não são os outros que nos devem dizer do que somos ou não capazes. Capicua já é caso sério na música nacional, e com a sua força e trabalho tem elevado o hip-hip português (e feminino) a outro nível.

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Esta miúda é um mimo. Tem 19 anos, mas tinha 17 quando a vi há dois anos no Rock In Rio, e 16 quando lançou o álbum "Pure Heroine". Um álbum "adolescente" mais maduro e profissional do que muitos artistas com idade para ser avôs(ós) dela.

A Lorde não tem um vozeirão. Aquilo é timbre, ritmo, trabalho e atitude. Fiquei pasmada quando a vi ao vivo. Tem uma forma única de viver a música e de a cantar. Sente-a espiritualmente, e dá-nos pele de galinha com os seus gestos metódicos e loucos. E é humilde. E linda, com aqueles olhos alienígenas e o cabelo de caracóis desalinhados

Com influências como Arcade Fire, Thom Yorke ou David Bowie, não admira que eu a consiga ouvir, apesar de ser gaja, e apesar de nem ser fã do género musical. Tem uma longa carreira à frente, espero, e cá estarei para a ouvir depois de a miúda acabar o secundário.

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Ela não tem um vozeirão. Não tem um timbre especial que a distinga. É uma dos muitos elementos dos Arcade Fire e é uma das coisinhas mais fofas de sempre. Ela é a Régine Chassagne.

Toca uma carrada de instrumentos, é compositora e cantora. Não é a voz principal dos Arcade Fire - essa tarefa pertence ao igualmente fabuloso marido Win Butler - e é rara a música em que é a única protagonista. Esse exemplo que vos deixo, "Sprawl II (Mountains Beyond Mountais)" é um dos exemplos. Normalmente faz parelha vocal com Win ou como back-vocal e talvez seja por isso que não me enjoo dela. Se ela fosse a vocalista principal, e não o Win, provavelmente não gostaria de Arcade Fire.

O que me encanta nesta mulher é o seu espírito de menina endiabrada. Quem já a viu em palco sabe bem como é - ela está no mundo dela, diverte-se, encanta, e sente aquilo como ninguém. Com quase 40 anos parece uma rapariga a despontar para a idade adulta e adoro que seja natural, nos gestos, nas reacções, no sorriso. Só de olhar para ela, ver as suas bochechas coradas e os caracóis a baloiçar deixa-me bem disposta. É muito mais do que uma "voz de gaja", é ela inteira, vibrante, autêntica. Uma mulher que faz aquilo que gosta, segura de si, sem medo de ser infantil e ao mesmo tempo tão profissional, uma artista gigante.

Tão fofinha. Adoro-a.

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Nasceu Deborah Anne Dyer mas é como Skin, vocalista dos Skunk Anansie, que é conhecida. Tem uma voz única e inconfundível e é uma mulher linda, elegante, poderosa, cheia de força e garra, e também de estilo, sempre a lançar tendências e numa forma invejável quase aos 50 anos. Seguida como exemplo para toda uma geração de mulheres.

Conheci-a nos primórdios da banda quando o som era mais rockeiro e abanei muitas vezes o capacete ao som dos malhões do álbum Post Orgasmic Chill. E claro, o meu som favorito era o Charlie Big Potato, essa música mega potente, super bem feita e a marca de uma geração.

Não ouço as músicas mais recentes - são demasiado pop para o meu gosto, assim como o seu trabalho a solo - mas há que admitir que a inglesa Skin é uma das mulheres cuja voz vai ficar para a história (com aqueles agudos roucos a atingir os píncaros) e é conhecida pelo mundo inteiro. E, melhor do que tudo, tem uma voz que suporto. Quando estou bem disposta.

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Foi com a poderosa música "Zombie" que conheci os The Cranberries na minha adolescência. Achei porreira a voz da vocalista, Dolores O'Riordan, e explorei mais. Apesar de gostar mais das músicas com algum poder de fogo, onde a sua voz mais se distingue, foi a primeira banda onde uma mulher vocalista me cativou.

Há 6 anos atrás vi a banda no Campo Pequeno e a sua voz ao vivo não desiludiu e a sua presença em palco é única. Foi das poucas vezes na minha vida em que paguei para ver uma banda liderada por uma mulher (assim de repente só me estou a lembrar dos Gotan Project).

Hoje em dia já mal consigo ouvir a "Zombie", mas restam umas 3 ou 4 canções cantadas pela Dolores na minha playlist. Uma delas é a "Linger", uma das outras é esta "Promises", com a irlandesa no tal registo poderoso que gosto de ouvir. É uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar no mundo, e penso ser a única mulher de quem posso dizer isso.

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Não gosto nem costumo ouvir Kylie Minogue a solo. Não tenho por hábito ouvir pop nem aprecio as composições básicas desse estilo aliadas às tendências electrónicas, e talvez por isso se justifique o afastamento. Não ligava nenhuma à Kylie, até há alguns anos atrás quando ouvi Where The Wild Roses Grow pela primeira vez. Um dueto com Nick Cave que aconteceu há mais de 20 anos e que foi um grande marco na carreira dos dois.

Nela, Kylie está num registo mais grave e controlado, muitas vezes sussurrado, acompanhando o conhecido timbre da voz de Nick Cave. A música é calma, melódica, e nunca tinha ouvido Kylie assim. E adorei. É verdade que continuo sem gostar de a ouvir a solo, mas dei-me ao trabalho de a ouvir melhor e respeito-a. Já é um grande avanço na minha aversão às vozes de gaja.

Esta música é "só" umas das minhas favoritas de sempre e a letra é um diálogo entre um assassino e a vítima. E Nick Cave compo-la a pensar especificamente em Kylie (mórbido, como eu gosto) e só por isso vale aqui a menção à mulher que deu origem a esta obra-prima.

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Vá, não é bem uma voz. É um grito. "O" grito. Nesta categoria onde destaco as vozes de mulheres que consigo suportar, não pode faltar aquele que é para mim o melhor grito feminino da história da música.

"The Great Gig in The Sky" é a quinta faixa do álbum "The Dark Side of The Moon" dos Pink Floyd, de 1973, e penso que dispensa apresentações. Conta com a voz de Clare Torry.

Há duas razões pelas quais não simpatizo muito com a Clare. Primeiro, porque não mostrou entusiasmo nem profissionalismo na sessão de gravação. Fez os Pink Floyd adiarem a sessão porque tinha outras coisas para fazer e confessou posteriormente que nem gostava da banda. Depois de uns takes, foi a própria a dar a sessão por encerrada dizendo que não valia a pena continuar porque não conseguia fazer melhor.

Em segundo lugar, Clare processou os Pink Floyd em 2004 porque não a colocaram como co-autora da música. Tantas décadas depois, Clare lembrou-se disso. Ou esteve mocada desde 1973 ou viu-se sem tostão e decidiu aproveitar-se do álbum que esteve 15 anos na tabela de vendas da Billboard.

De qualquer dos modos, o facto é que os Pink Floyd conseguiram aproveitar o melhor de todos os takes de Clare e criaram uma canção que, sem uma única palavra, diz tanto, mas tanto. É de arrepiar, de fazer chorar, chega-nos cá bem ao fundo e traz-nos as emoções até cá acima. É o grito da alma, os sentimentos a falar, é tristeza e resignação, é esperança e beleza, uma viagem, um desespero. E é uma coisa diferente para cada um de nós.

Nunca saberemos se Clare conseguiria fazer melhor do que isto, mas assim de repente, ouvindo pela 1034ª vez, ainda me parece perfeito.


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Quem me conhece sabe que tenho uma aversão muito particular e machista - odeio vozes femininas. Não gosto de bandas que tenham mulheres como vocalistas ou sequer de intérpretes individuais de alto gabarito. Não sei se tem algo a ver com o sistema nervoso, mas simplesmente não consigo, começo a ficar com os nervos em franja, tenho suores frios e fico com uma neura que ninguém me atura. Isto é verídico.

Como é tão rara a mulher que eu suporto ouvir, decidi dar início à categoria "vozes de gaja" para homenagear todas as mulheres que são a excepção que confirma a minha estúpida regra. E foi Grace Slick, uma das vozes dos Jefferson Airplane, que me deu esta vontade.

No outro dia deparei-me com a música White Rabbit, de 1967, e mexeu-me cá dentro. Grace tem um olhar hipnotizante e matador, uma voz seca, sincera, com algo de estridente, que lhe vem das entranhas. Isto tudo junto com aquele ambiente psicadélico dos 60's e a letra dedicada à Alice no País das Maravilhas é uma mistura perfeita. E aquele crescendo final é algo de extraordinário que me dá vontade de gritar com ela.

Grace tem hoje 76 anos e está de parabéns porque é uma mulher e eu suporto ouvi-la cantar.

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