The Shape of Water (2017)

by - quarta-feira, julho 04, 2018


Finalmente vi o filme vencedor dos Oscares deste ano. Andava a adiar porque não me parecia que fosse gostar, mas enganei-me.

A história passa-se nos anos 60 e segue uma empregada de limpeza, Elisa, que trabalha num laboratório secreto do governo. Ela é muda e há poucos que a entendam - um vizinho e uma colega são os únicos a quem pode chamar de amigos. Um dia, o laboratório recebe um estranho ser que foi capturado - uma espécie de peixe mas com forma humana. Nunca se viu nada igual, e como tudo o que o ser humano desconhece, desrespeita.

Os investigadores, e principalmente Strickland, o chefe de segurança responsável pelo "homem-peixe", tratam-no abaixo de cão. Em vez de o estudar para o perceber e quem sabe ajudar à evolução, só pensa em domá-lo, infringindo-lhe dor para mostrar quem manda. Acontece que Elisa, que se viu sozinha com a criatura enquanto realizava as suas tarefas, começou a criar uma relação com ele. É uma coisa que surge e evolui naturalmente. Os dois vão dizendo coisas no silêncio das vozes que não têm, construindo uma comovente intimidade através dos gestos ou do som da música.

Quando Elisa sabe que o plano é matar o anfíbio fica devastada e vai tentar libertá-lo com a ajuda dos seus amigos. É um plano arriscado que tem tudo para correr mal - como libertá-lo de um tanque, transportá-lo e escondê-lo? No entanto, a sua determinação e insistência vão dar origem a momentos imensamente belos e impensáveis.

À partida não é nada o meu género de filme - pode-se dizer que é um conto de fadas erótico, longe da realidade palpável, e eu que gosto de andar com os pés bem assentes no chão tiro o chapéu ao Guillermo Del Toro. Não me imagino a gostar de um filme assim realizado por qualquer outra pessoa. Os mundos e as criaturas que saem da sua mente são brilhantes, e a forma como ele garante que criamos laços com elas é de génio.

Sally Hawkins está fenomenal no papel de Elisa, sendo talvez a interpretação da sua vida. Nota positiva também para Olivia Spencer, Michael Shannon e Richard Jenkins.

Não é um filme perfeito e há cenas que, para mim, são completamente escusadas. Para exemplificar sem spoilar, há uma cena de cantoria que me irritou particularmente. Mesmo assim, é decerto um dos melhores filmes do ano passado, um dos mais poéticos, e que mostra ao mesmo tempo o mais podre e o mais doce que o humano pode ser. Se mereceu ganhar o Oscar, não sei, ainda tenho muito filme para ver, mas um lugar no top 5 penso que é garantido. Recomenda-se.


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