Eight Grade (2018)

by - terça-feira, outubro 16, 2018


Eight Grade segue a vida de Kayla, uma adolescente de 13 anos que está a finalizar o oitavo ano. Ela vive sozinha com o pai e têm uma relação estranha - apesar de só se terem um ao outro, Kayla não confia totalmente nele para expressar o que sente, talvez porque nem ela mesma sabe interpretar muito bem. Como qualquer pessoa que se lembre de ter passado pela adolescência, Kayla carrega consigo os sentimentos típicos da altura e, como tal, é cheia de inseguranças, dúvidas, com uma vontade enorme de se integrar mas sem saber como. Olha com inveja para as raparigas da sua idade que já têm namorados, melhores amigas, que são requisitadas para as festas, que estão sempre bem arranjadas, têm grande estilo, cabelos bonitos, enquanto a sua vida é desprovida de tudo isto.

Com este background é difícil acreditar que Kayla tem um canal no Youtube onde, imagine-se, dá conselhos a outros da sua idade, sobre integração, ser fixe, parecer bem, ser confiante. É claro que o seu canal não é um grande sucesso - ou melhor, não é nenhum - mas não deixa de ser cómico ouvi-la dar conselhos sobre tudo o que a incomoda e depois vê-la fazer exactamente o contrário.

O Youtube é apenas uma das redes sociais abordadas e, tratando-se de um filme sobre uma adolescente, todas elas acabam por espreitar, relevando ainda mais a importância das mesmas na vida dos jovens de hoje. Não é uma novidade, mas para quem, como eu, cresceu apenas com o mIRC e o Messenger, não deixa de ser chocante como as vidas dos adolescentes são completamente tomadas de assalto por um número crescente e chocante de redes. E torna-se difícil, para uma jovem insegura, tímida, que tem dificuldade em encontrar valor em si, estar constantemente a ser bombardeada pela aparente alegria, beleza e vida social dos outros, não podendo deixar de se comparar e, como tal, ser uma fonte de desconforto. Ao mesmo tempo, os adultos, totalmente fora destes aquários, não sabem lidar com isto.

Trata-se de um filme honesto que não pretende pintar a adolescência nem de uma coisa terrível, nem de algo maravilhoso, mas simplesmente uma coisa que acontece e, como tal, tem um carácter quase documental. Apesar de não ser uma comédia pura (apesar de ser realizada por um comediante e ter muito de auto-biográfico), pois puxa ao melodramatismo, não conseguimos não rir em algumas situações, não por serem bizarras, mas por nos surpreenderem na sua simplicidade e honestidade acutilantes.

É um filme para todos os públicos e que acaba por surpreender por ser tão bom na sua falta de complexidade aparente.

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