Amocha, tuga!

by - sexta-feira, agosto 19, 2016

Já aqui falei sobre as diferenças na cultura do trabalho por esta Europa fora, mas nunca é demais dizer que somos uns choninhas. Os suecos estão a implementar as 6 horas de trabalho diárias e quase choro de inveja. Aqui vai-se discutindo a redução horária no sector público, o que não reúne consenso, quanto mais se fosse no privado. Seria impensável. Seríamos calões que não querem fazer nada. Levaríamos com bocas do género "tanta gente no desemprego que não se importa de trabalhar 18 horas diárias se for preciso, e vêm praqui estes calões que não querem mexer palha". Porque o tuga é assim, acha que tem de se sofrer para merecer viver.

É tudo uma hipocrisia pegada. É triste reparar pelo reflexo num vidro que o colega que fica sempre até mais tarde está afinal a jogar ao solitário para sair depois do chefe. É muito mau ser a penúltima a sair, ir à casa de banho e reparar depois no colega que lá ficou, a espreitar para todos os lados antes de correr para o elevador e quase se engasgar quando me vê e repara que afinal não foi o último. É estúpido apanhar o colega que "foi para uma reunião" num canto sozinho noutro piso do edifício num sofá a fazer uma pausa.

Atenção, o tuga é trabalhador. Mais do que isso, é eficiente. Trabalha bem, dá o litro, cumpre prazos. Só que na nossa cultura é impossível dizer: "Terminei as tarefas de hoje. São 17h00, vou sair!", porque é imediatamente olhado de lado como o imbecil que acha que é mais que os outros e faz o que quer. Se for necessário, fica a arquivar emails e a vasculhar os ficheiros na reciclagem até serem 19h00, essa hora já que cumpre os requisitos mínimos para sair...

Em Portugal, quem trabalha mais horas é visto como o melhor e mais dedicado trabalhador. E enquanto assim for, nunca estaremos ao nível dos outros. Eu, em meio dia de trabalho, faço mais tarefas e mais rapidamente que o meu colega do lado no dia inteiro. Logo, ele tem de ficar até mais tarde, e eu não. Ele ganha quase o dobro do que eu ganho e é visto como dedicado e com amor à camisola. Eu só acho que ele é lento... É um paradigma injusto que beneficia facilmente os espertalhões, e não o trabalho em si, ou sequer a empresa.

Restam-nos estes exemplos de quem sabe que um trabalhador com mais tempo para si, para a família e amigos, para aproveitar o resto do dia, dedicar-se a hobbies ou ao que quiser, é um trabalhador mais feliz, motivado, que trabalha mais e melhor no tempo disponível. É assim tão difícil entender? É caso para dizer - amocha, tuga!


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2 comentários

  1. Sempre gostei de cumprir horários! E bem que gostava de ter mais quem o fizesse. Faço o meu trabalho, dentro do horário que me é dado e cumpro, sempre! Aprendi à minha custa! No primeiro sítio em que trabalhei (pré-computador), falavam o dia todo com uma folha à frente, em que se mexia a mesma da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. Chegava as seis horas e era vê-las trabalhar à séria até às 21h00, pegando na pilha que estava ao lado, para aquelas horas extra (não, não ganhavam mal e sim, eu saía à hora), todos os dias, todas as semanas, todos os meses em que lá trabalhei!!!!

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    1. É mesmo muito injusto para quem é cumpridor, e no entanto essas pessoas é que são vistas como as dedicadas! Raio de mentalidade...

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