Metallica e Ghost - uma aventura no Restelo

by - quinta-feira, maio 02, 2019

Quando foi anunciado que os Metallica iniciariam a sua nova tour europeia em Lisboa, com os Ghost a abrir, foi para mim um momento divino e, €80 depois, começou um longo período de espera que terminou ontem à noite.

Infelizmente, em vez de falar sobre os concertos, tenho algo a dizer sobre a organização. Não costumo ser a pessoa mais picuinhas mas esta foi a pior experiência que já tive, e digamos que já levo muitos anos disto. Já cheguei mais tarde do que queria devido a ter estado parada na autoestrada durante uma hora, e quando cheguei ao recinto, zero informações. Nada visível sobre onde nos dirigirmos para entrar no relvado - arriscámos ir para a fila maior e vá lá, acertámos, mas houve pessoal a soltar caralhadas quando chegaram à porta e afinal não era ali que tinham de entrar. Note-se que isto se passou no Estádio do Restelo e que havia apenas uma porta para entrar no relvado. Milhares de pessoa - uma porta. Estão a ver a cena? 

Tanto tempo a dar voltinhas para entrar, que os Ghost começaram a tocar quando estava à espera para ser revistada e depois foi uma corrida desenfreada para conseguir ver o meu Papa, a minha luz negra, assistir à missa, praticar o ritual, mas este meu pensamento interrompeu-se quando assim que entro no estádio vejo mais de dez gajos em filinha a mijar para a parede nas escadas de acesso ao recinto. Ora aquele fluxo mictório provocou um rio de mijo tremendo, que ia descendo pela parte onde o pessoal tinha de passar, e assim, a chapinhar em urina, chegámos ao relvado. A primeira coisa que me saltou à vista foram as casas de banho portáteis plantadas no meio do recinto com filas que já começavam a dar a volta ao estádio, e aí compreendi o rio de mijo. 

Lá corri para ver os Ghost, mas ver não vi muito, porque - primeiro, a área do Golden Circle, muito vazia, ocupava um espaço exagerado e tivemos de ficar bem para trás; depois, porque o piso plano não permite às baixotas ver grande coisa em cima do palco e, como era de dia, não se viam bem as imagens nos ecrãs. Mas bem, Papa é Papa, já tinha saudades dele, e os Ghost deram um concerto competente para uma plateia que mal os conhece.

Quando acabou estava cheia de fome e com sede e pensei em ir comer. Dei uma volta pelo recinto, e pasme-se, só encontrei nem meia dúzia de banquinhas com cachorros, com filas maiores que as das casas de banho, aliás, já se confundiam umas com as outras. Mas, como não como carne, continuei à procura. Voltei para trás, voltei a passar pelo rio de mijo, rezando para não ter buracos nos ténis, esperando encontrar uma barraca com fatias de pizza, uma pita shoarma, uma massa qualquer, mas não. Bifanas. Só bifanas. Pois bem, fui de novo para o recinto, novamente o rio urinário, e fui mijar. Tinha de o fazer. Tinha de ir para aquela fila. Tinha de me mentalizar. E fui. E esperei, esperei, esperei. Quando cheguei à frente, vi que muitos gajos tinham desistido e estavam a mijar para as laterais das latrinas das gajas, pelo que vi mais pilas do que aquilo que desejaria. Não vou falar do estado das casas de banho - decerto todos já passaram por uma casa de banho portátil usada centenas de vezes antes de vós.

Quase a desfalecer, decido-me a ir para a fila dos cachorros, e saí de lá com um belo pão com batata frita por €4! Depois de ver tanta salsicha, nem me tiraram o valor da salsicha que não comi. E vocês perguntam - ah, mas se não comes carne e já sabes como as coisas são, devias ter levado comida de casa. Pois. Só que é o seguinte:
  • As coisas já não são o que eram, e tenho encontrado opções vegetarianas em absolutamente todo o lado onde tenho ido. Seja em festas da aldeia, em concertos isolados no fim do mundo, festivais, o que seja, não tenho tido qualquer problema em comer - tanto na variedade, quantidade ou no tempo de espera. Pá, como eu estava ficaria contente com um pacote de pipocas ou uma fartura. Ou um chocolate de uma máquina automática. Mas nada. Nada.
  • De acordo com as "regras" que foram publicadas no dia anterior, não se podia levar mala ou mochila. Quanta comida acham que consigo enfiar numa pequena malita? Enfiei lá uma maçã e foi uma sorte. Portanto, durante 8 horas de muito desgaste físico, comi duas dentadas de pão com batata frita e uma maçã...
Pronto, já não falo mais das necessidades básicas. Depois disto tudo, posiciono-me para ver Metallica (ou ouvir, porque ver tá quieto) quase junto à grade que separa os bilhetes de relvado do Golden Circle. Como já referi, este estava quase vazio. Pergunto-me se será muito difícil, uma vez que não foram vendidos quase bilhetes nenhuns, diminuir a área do Golden Circle chegando as grades mais para perto do palco. Não sei, provavelmente tem uma ciência por trás e eu sou muito burra, mas se nem um terço da lotação está vendida, que tal dar mais espaço aos que estão atrás? 

O concerto começou, tudo muito lindo e tal, mas o som, uma merda. Muito baixo - conseguíamos falar uns com os outros sem levantar a voz -, distorcido, os graves muito estranhos, enfim, que bom. Mas, devido à ajuda da missa negra que tivemos antes, o satã ouviu-nos e os seguranças deixaram passar algumas pessoas do relvado para o Golden Circle porque, enfim, o espaço estava às moscas e ficaria mal mas fotografias e filmagens. Conseguimos passar, e assim sim, consegui ver o meu James de perto, a minha paixão, loucura, meu fetiche cota, o som muito melhor, a vida faria sentido se não estivesse com uma fome do caralho. No entanto, é uma situação injusta para quem pagou €125 para ir para o Golden Circle, e depois os pobres que "só" pagaram €80 ficaram lá na mesma. Eu ficaria fodida.

O concerto foi porreiro - os Metallica cumprem sempre -, tivemos direito a algumas surpresas na setlist e ouvi músicas ao vivo que nunca tinha ouvido - bem bom! Eles estão velhos, mas estamos todos. São competentes a entreter (apesar dos inúmeros pregos), têm uma empatia especial com o público, são sempre bem recebidos por cá, e tratam-nos lindamente. Existiram alguns pregos, é verdade, e algumas falhas técnicas depois da pirotecnia (que deixou os ecrãs sem imagem), que obrigaram a algumas pausas, mas não podemos culpar a banda. Fico feliz por tê-los visto - e também aos Ghost - e não seria capaz de não comprar bilhete para um concerto de Metallica. Enquanto eles vierem cá, eu irei sempre ver. Mas a experiência ficou marcada pelos aspectos negativos que mencionei e não desfrutei de tudo como devia ser.

Fica o recado para a Prime Artists. Nós, público, agradecemos que tragam cá grandes bandas, e vocês têm-no feito com excelência, promovendo a música mais pesada - algo que quase ninguém tem colhões para fazer. Mas vocês também sabem que, apesar de sermos feios, porcos e maus, nós, metaleiros e metaleiras, não somos animais de quinta. Queremos, pelo menos, muitas casas de banho, bem posicionadas, porque se vendem cerveja a rodos, já sabem que geram mijo a rodos. E somos pessoas que comem bem, porque ficar horas de pé, a saltar, a gritar, a conviver, requer energia, logo, precisamos de comida. Queremos mais comida, mais variedade, porque não dispomos de uma hora para estar na fila para mijar, nem de mais outra hora para estar na fila para um mísero pão - pagámos para ver os concertos e estamos a contar que satisfazer as necessidades seja um processo célere que nos permita voltar para perto dos amigos e do palco, onde se passa a acção.

E agora que já parei de me queixar, ficam umas fotos.














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4 comentários

  1. E não é que acabei de ficar a saber que o meu chefe também foi ver os Metallica ao Restelo?
    Disse que já não tem idade para tal que demorou mais de um dia a recuperar...
    mas gostou e muito!
    Boa tarde! E bom fim de semana!

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    1. Ahah, eu também tirei o dia de ontem para descansar... Tem de ser, a idade não perdoa :D
      Beijinhos

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  2. Também fui ver o concerto :)
    Não sou metaleiro mas gosto de Metallica e sendo o bilhete oferecido tudo foi ganho. Curiosamente lembrei-me de si, porque já tinha lido aqui um post sobre os Ghost.
    Estava longe do palco, na bancada sentadinho! Achei o som muito bom, e os audiovisuais magníficos se bem que quando actuaram os Ghost ainda estava de dia e apenas usaram um espaço reduzido dos referidos "ecrans"
    O engraçado foi mesmo ter sabido dos Ghost através deste blog

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    1. Olá Paulo! Já posso morrer feliz por ter introduzido Ghost na vida de alguém :D
      O som em Ghost achei medíocre, por causa do vento que o levava todo... Mas a percepção devia ser diferente noutros locais do estádio :)
      Agora tem de ir ver Ghost quando vierem cá em nome próprio, garanto que é outra loiça!
      Beijinho e obrigada pela visita :)

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