Pessoas estranhas #134 - os designers machistas, em dia da mulher
Lembram-se da Bigbrand? É a agência de comunicação responsável pelo fantástico anúncio de emprego, há um mês e pouco, onde pediam uma designer charmosa, cheirosa e talentosa:
Ora, foram enxovalhados nas redes sociais, está claro. Depois, eliminaram o anúncio e emitiram um pedido de desculpa esfarrapado, em que basicamente disseram a pérola: "estava longe de imaginar que o sexismo era um assunto tão polémico". Alegar desconhecimento de causa é daquelas coisas que nem é válida, mas pior do que isso é atirar desavergonhadamente essa alegação para o ar, como se a desigualdade entre mulheres e homens não fosse facto consumado desde sempre. Não é um "assunto polémico", é um facto do qual todos nos devemos envergonhar. As mulheres não têm acesso aos mesmos empregos, posições de chefia, nem ganham o mesmo do que os homens no desempenho das mesmas funções. Factos.
Mesmo que fossem uma empresa a operar numa floresta no meio do nada, sem acesso à informação e sem saber nada do que se passa no mundo, vos garanto que nunca escreveriam um anúncio pedindo um designer charmoso e cheiroso. Tanto que, na segunda parte deste anúncio, as características que pedem para "um" designer, homem, são talento e criatividade. Já uma gaja tem no mínimo de ter charme e cheirar bem. Ridículo, senhores.
Isto não termina aqui. Há uns dias deparei-me com um post desta mesma empresa, publicado neste dia, 8 de março, dia da mulher, em 2016. Se entretanto não o removerem, podem ver aqui.
Sim, isto é real. Um "Feliz Dia da Mulher" representado por uma senhora de joelhos a limpar o chão. Vá, eu sou designer, e sei que com o preço que pagaram por essa fotografia podiam ter escolhido outra, de entre as milhões disponíveis, que não fosse um estereótipo. Isto é a perpetuação machista do preconceito de que existem tarefas e profissões reservadas às mulheres, e outras aos homens. E, apesar de hoje em dia existirem mulheres a desempenhar funções que antes estavam reservadas a homens - camionistas, taxistas, polícias, futebolistas... - e homens que desempenham funções que antigamente eram consideradas "de mulher" - educadores de infância, profissionais da limpeza, cuidadores, costureiros... - está longe de ser não só equilibrado, como essas pessoas ainda levam com bocas, piadinhas e sofrem bullying por o fazerem.
O Dia da Mulher não é um dia feminista. É um dia que nos lembra que somos todos iguais. E surgiu porque há muitos anos atrás as mulheres não tinham sequer direito a votar, quanto mais condições de trabalho justas e idênticas. É isso mesmo - uma procura eterna por justiça. A mulher não quer mais do que ninguém, só quer libertação dos privilégios de um género que parecem não ter fim. Estamos em 2021 e existe, sim, existe mesmo, muita gente, demasiada gente, que acha que o lugar da mulher é na cozinha, a cuidar de filhos, qualquer coisa recatada e que não requeira grande análise, intelecto, força ou raciocínio. Guess what bitches, o lugar de uma gaja é na revolução! Feliz dia da mulher!
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