The Favourite (2018)

by - terça-feira, março 19, 2019


Estamos no Século XVIII e a Inglaterra está em guerra com a França. A rainha Anne (Olivia Colman) tenta governar como pode mas, devido à progressão da gota, o seu discernimento e capacidade de decisão incertos dão poder à sua amiga, Lady Sarah (Rachel Weisz) para tomar decisões em seu nome. As duas têm uma relação muito próxima e misteriosa, mas parecem entender-se, de uma forma ou outra, sobre os destinos do país e da guerra, que assentam nestas duas mulheres naturalmente líderes.

A relativa paz foi perturbada quando Abigail (Emma Stone) chegou. Prima afastada de Lady Sarah, chega aos aposentos reais pedindo trabalho e o seu charme e juventude sensibilizam a parente. Aos poucos, Abigail vai impondo a sua presença e, com a sua jovialidade e os seus modos prestáveis, ganha a confiança da rainha. Forma-se um trio de mulheres de força que ao início funciona como uma máquina oleada, mas onde a sede de poder e a ambição vão afectando as engrenagens...

Este filme era o meu preferido na corrida ao Melhor Filme nos Óscares, por diversas razões. É realmente diferente - apesar de ser um filme de época, tem técnicas que não estamos habituados a ver neste género. Tem uma abordagem sarcástica, explícita e inteligente, num argumento fortíssimo. A fotografia e cinematografia são de topo. A banda sonora é inesperada e assenta que nem uma luva. O casting é maravilhoso. O realizador Yorgos Lanthimos fez um trabalho extraordinário. É daqueles filmes que vai ser visto daqui a 20 anos e vai continuar a ser um marco.

Para além dos aspectos mais técnicos, explora a natureza corrupta humana de uma forma que extrapola convenções, inserida numa tragédia barroca que provoca a moralidade. Há também toques de surrealismo em determinadas situações mas que, curiosamente, não nos provocam estranheza. Outra coisa inédita é que não existem personagens especialmente simpáticas ou que inspirem confiança, coisa que vai totalmente contra "as regras" que estamos habituados a observar no cinema. Aliás, este filme proporciou-me uma experiência rara - mudei completamente de opinião sobre algumas das personagens, sem reparar, durante o filme. Uma autêntica lavagem cerebral do Yorgos.

Olivia Colman ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Atriz, e o filme teve outras 9 nomeações - incluindo Melhor Atriz Secundária para as outras duas grandes mulheres da trama, e Melhor Filme. Se ainda não viram, The Favourite é paragem obrigatória - um monumento ao cinema, imoral, absurdo, cativante, emocional, belo na sua estranheza. Vai originar algumas torcidelas de nariz se não tiverem a mente um bocadinho aberta...

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