As coisas que se aprendem #88 - Fernando Pereira, fotógrafo e ecologista (1950-1985)
in O Mundo do Fim do Mundo, Luis Sepúlveda (1989)
Foi neste livro de Luis Sepúlveda que conheci Fernando Pereira, fotógrafo e ecologista nascido em Chaves, em 1950. E tentei saber mais sobre ele.
Para fugir ao serviço militar obrigatório e ao regime salazarista, foi para Espanha, e daí, entre boleias e caminhadas, chegou aos Países Baixos, onde acabou por assentar e casar com uma holandesa, Joanne.
Fernando, dado a causas, promovia a paz, e interessou-se especialmente pela conservação e pela campanha anti-nuclear. Em 1982 juntou-se à Greenpeace como fotógrafo freelancer.
Em 1985 Fernando fazia parte da tripulação do Rainbow Warrior - uma embarcação da Greenpeace - numa missão pacífica com a duração de seis meses. Foi parte activa, inclusivé, do salvamento dos habitantes do Atol Rongelap, que havia sido contaminado com radioactividade no decorrer de testes nucleares promovidos pelos EUA.
O objectivo de Fernando era fotografar as atrocidades originadas pelos testes nucleares e os protestos que estavam a ser conduzidos contra os mesmos. A sua máquina fotográfica era a sua arma, e foi a vontade de fazer do mundo um lugar melhor que o matou.
Ao largo da Polinésia Francesa, onde decorriam protestos, o barco Rainbow Warrior foi detonado pelos serviços de inteligência franceses (DGSE). A primeira bomba não o afundou. Fernando recusou-se a deixar o barco e correu para ir buscar a sua máquina fotográfica, sua companheira e testemunha. Mas já não voltou. A segunda detonação afundou o barco e com ele foi Fernando.
Apesar de eu desconhecer esta história, pelos vistos correu mundo e muito se tem falado sobre o assunto ao longo dos tempos. Tanto que só decorridos 20 anos do ataque se apurou que foi autorizado pelo próprio presidente francês, François Mitterrand. E Pierre Lacoste, almirante, revelou que a morte de Fernando lhe pesa na consciência. E só em 2006 foi revelado o nome do agente que colocou as bombas no Rainbow Warrior.
Fernando tinha 35 anos, a minha idade, quando morreu. E morreu no ano em que eu nasci. Acredito que o karma numérico, hoje e agora, me tenha trazido o Fernando ao conhecimento. Portugueses conquistaram os mares, e portugueses aos mares caíram. Mas nem todas as conquistas se fizeram com canhões e espadas. A causa faz o homem, e lamento sempre que pessoas boas, com altos propósitos, caiam antes de tempo. Porque são raras, cada vez menos. Fernando perdeu a vida por algo maior que ele, e fico feliz por tê-lo conhecido, mesmo assim, tarde.
0 comentários