Que saudades eu já tinha dos meus alegres Metallica

by - sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Não sei quantas vezes já os vi. Venham cá as vezes que vierem, irei sempre vê-los. Ou até deslocar-me lá fora, como já fiz. Irei, mesmo que venham com as muletas e em cadeira de rodas. Porque foram a primeira banda de metal que ouvi - a partir do momento em que me emprestaram o Black Album na escola a minha vida nunca mais foi a mesma. Foi por eles e através deles que o metal se apoderou de mim e fez de mim a pessoa que sou hoje. Foram a porta de entrada para um mundo do qual me orgulho de pertencer, onde se encontra muita da família que eu escolhi. Foram a chave para um modo de vida que me assenta que nem uma luva. Foram essenciais para me descobrir.

Ainda mal tinha maminhas e já sonhava vê-los de perto, tinha fantasias com o James e os cadernos da escola preenchidos com juras de amor eterno. Se eu dissesse a essa adolescente que iria tê-los pertinho, pertinho, pertinho, ali ao alcance de alguns braços, ela iria salivar e chorar baba e ranho.

Irei vê-los sempre. E ontem fui. Desde a última vez que os vi têm o cabelo mais branco e alguns quilos a mais. Eu também já tenho alguns brancos, e uns quilos a menos. Todos mudámos, mas somos exactamente os mesmos. Eles continuam a ser uns putos que sabem o que estão a fazer e que se divertem em palco. Eu continuo a olhar para eles com aquele brilhozinho nos olhos. O público continua a esgotar os lugares por onde eles passam. Eles continuam a gostar de nós, de tocar para nós, e a dizer que somos o melhor público do mundo. E às vezes até acho que somos.

A empatia entre Metallica e Portugal é velhinha mas bem firme. É uma história de amor que acredito que só acabe quando todos morrermos - nós e eles. Eles mudaram o mundo, mudaram a música, e quer gostem deles ou não, quer já estejam fartos ou não, terão de admitir que a música é o que é hoje porque eles existem.

Quanto ao concerto de ontem. Os jovens que ponham os olhos neles. Um palco no meio do recinto - proporcionando uma grande proximidade - uns quadrados por cima do palco a passar vídeos que contam histórias e uns pequenos drones que apareceram por lá para dar uns efeitos foram as únicas coisas necessárias para um espectáculo do caraças. Não estou a criticar as bandas que andam com uma parafernália de coisas atrás, camionetas de luzes, efeitos, confetis, realidade aumentada - cada um faz o que quer e cabe tudo na definição de espectáculo - mas há qualquer coisa na simplicidade que nos liga mais à música e uns aos outros.

Terem tocado Xutos e dedicado o momento ao Zé Pedro. Eles não tinham de o fazer. Andam por cá desde antes de eu nascer. Nem precisam de tocar para viver. E no entanto dão-se ao trabalho de aprender músicas locais e de saber mais sobre as bandas dos países que visitam, e isso para mim é humildade. Ser uma das maiores  bandas do universo - senão a maior - e fazê-lo, torna-os ainda maiores.

Irei sempre. E ficarei com saudades deles, todas as vezes.










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