Palavras do Abismo


Anthony Hopkins é Anthony, um octogenário que está aos poucos a perder a noção da realidade. A demência é o prato forte do filme, apoiado por interpretações fabulosas não só do protagonista, vencedor do Óscar de Melhor Ator, como também de Olivia Colman, no papel da sua filha, Anne.

Vivemos o dia-a-dia de Anthony, experienciando os detalhes cada vez mais confusos que se passam dentro da sua cabeça. O próprio espectador não sabe o que é real, o que é uma mistura de vivências, ou o que é completamente inventado. Este pormenor é de uma delicadeza bruta, já que nos permite experienciar o que é ver o mundo através dos olhos de alguém senil - no fundo, colocarmo-nos no lugar do outro.

Começamos por ver um Anthony capaz de usar o humor e o charme para fugir à dura realidade, e até para desviar as atenções do assunto, mas depressa se torna devastador e de partir o coração. O facto de assistirmos a tudo na sua perspectiva torna tudo mais palpável e desperta-nos a empatia que podia faltar para compreender o que é o desmoronar de todas as nossas memórias, sentindo como nossas as suas dores.

Tudo isto suportado por um argumento maravilhoso, também vencedor de um Óscar. E que merecido. Aconselho este filme a todos - é uma viagem triste, sim, mas necessária, um autêntico abrir de olhos perante aquilo que nunca iremos verdadeiramente compreender.

Por fim, sinto uma necessidade extrema de agradecer ao Anthony Hopkins, por tudo o que ele foi e por tudo o que ainda é para o cinema mundial. Uma inspiração e um talento inesgostáveis, e este filme é, para mim, o ponto alto de uma carreira brilhante e um dos seus papéis mais humanos e inspiradores.


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Rosamund Pike é Marla Grayson, tutora legal de idosos. Ao contrário do que pensamos serem as características de alguém com essa função, onde pelo menos esperamos compreensão e empatia, Marla é implacável, calculista, fria, e também uma boa actriz no que toca a esconder os seus verdadeiros sentimentos relativamente aos idosos. No fim de contas, são só isso, contas, números, legados que ela pode vender e rentabilizar. Juntamente com a sua sócia e namorada, Fran, dirige este negócio com mão de ferro e inteligência, o que lhe rende fama, muito dinheiro e boa reputação junto daqueles a quem pretende enganar, tornando a sua vida muito fácil.

No meio deste mar de rosas de enganos, surge uma idosa que é a vítima perfeita. Tem um óptimo pé de meia, uma casa valiosa e, mais importante do que tudo, não tem familiares que possam levantar entraves ao processo que se está prestes a iniciar - alegando que está a perder as faculdades mentais e que é um perigo para si própria, Marla e companhia conseguem facilmente convencer um juiz de que esta idosa, que até então era perfeitamente independente e tinha uma boa vida, deverá ser encaminhada para um lar, medicada, sedada, e que Marla deverá ficar responsável por ela e pelo seu património. Txaran!

Mas eis que esta idosa não é uma mulher qualquer, anónima, sem ninguém, como inicialmente Marla pensava. É então que entra em cena Roman (Peter Dinklage, devem lembrar-se do saudoso Tyrion de Game of Thrones), com a pretensão de resgatar aquela mulher a qualquer custo, sem ainda saber que Marla é uma autêntica leoa dura de roer. Dá-se início a uma troca de galhardetes menos simpáticos de parte a parte.

Rosamund já ganhou um globo de ouro por esta performance, e não ficarei admirada se for nomeada aos Óscares. Ela está para este papel como os meus livros para a estante - ficam tão bem ali encaixados. Capaz de despertar no espectador tanto sentimentos de repulsa como de admiração, é um dos pontos altos de I Care a Lot. Odiamo-la, mas odiamo-la com paixão. Símbolo do capitalismo desenfreado, a sua personagem é o epíteto da manipulação.

Não é um filme que vai agradar a todos. Penso que a maioria das pessoas, que anseia por heróis, vai ficar desiludida - aqui, não os há. Não existem personagens boas (tirando algumas de participação curta) para lhes aquecer o coração e dar esperança - alguém por quem torcer. Isto é uma guerra entre pessoas promíscuas, e o prazer de assistir a este filme está também na observação desse confronto caótico de egos e de poder. Outro ponto que podem não gostar é que há não só um, mas dois plot twists, que vão mudar tudo, e quiçá estragar a experiência a espectadores que não estão para aí virados. 

Para além de toda a ação e humor negro, o filme é um retrato da realidade podre do sistema de saúde e cuidados americano, onde há engano, conluio, violência e muito pouca dignidade para os visados.


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Confesso que quando morre um escritor que aprecio me custa mais do que quando se trata de algumas pessoas que fizeram parte efectiva da minha vida e que nela nada, ou só mal, acrescentaram.

Era muito jovem (tinha talvez uns 13 anos) quando li o meu primeiro livro de Luís Sepúlveda - "História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar". Esses tempos já lá vão, mas lembro-me de gostar. Lembro-me também de o reler, já em adulta, e dos novos contornos que assumiu dentro de mim. Com o discernimento da maturidade, a história tomou todo um novo peso, e os ecos do respeito e da amizade bateram ainda mais forte. É essa parte da magia dos livros de Sepúlveda - capazes de encantar as gerações mais novas e de tocar os meandros da alma dos adultos.

No início deste ano, numa das idas à terrinha, visitei a estante para revisitar alguns livros que não lia há algum tempo e trouxe comigo o "Diário de um killer sentimental". Um livro completamente diferente, cómico, irónico, e no entanto, como sempre, com uma moral elevada. Quis o destino que o estivesse a ler enquanto Sepúlveda estava a ser diagnosticado com o Covid-19. 

E agora, partiu. Senti uma pequena partícula dentro de mim crescer e manifestar um extremo desconforto. Ele fez parte do meu crescimento e, consequentemente, da pessoa que sou. A minha inteligência emocional é melhor também por causa dele. "O mais português dos escritores latino-americanos", com uma história de vida tão complexa e rica que o ajudou a ser um ser humano melhor. Dizem os amigos que gostava de ser tratado por Lucho. Obrigada por tudo, Lucho. És um dos que vai viver para sempre.




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Em primeiro lugar, devo salientar o mais óbvio. A parecença física entre o actor Jonathan Pryce e o Papa Francisco é assombrosa. Já o havia notado no Game of Thrones (na altura surgiram imensos memes de comparação) e aposto que quem teve a brilhante ideia de fazer este filme foi precisamente porque era necessário pôr o homem a interpretar o Papa. Era o desígnio divino. Até conheço uma pessoa que pensava que o Papa Francisco tinha dado uma perninha como actor. Ele sentiu-se estúpido quando lhe disse, mas aceito o erro. É uma semelhança paranormal.

Feito o aparte, gostei bastante do filme da Netflix que concorre com 3 nomeações aos Óscares - Melhor Filme, Melhor Actor para Jonathan Pryce e Melhor Ator Secundário para Anthony Hopkins. Considero até que não teve (tem) a atenção devida, muito por causa de todo o buzz do The Irishman (imerecido, na minha opinião), também Netflix.

O Papa Bento XVI e o Papa Francisco são, como é do conhecimento geral, pessoas completamente diferentes. O primeiro é conservador, tradicional, e o seu papado esteve envolto em polémicas que abalaram a Igreja católica. Já o segundo, transporta consigo ideias de progresso e perdão, sendo uma pessoa muito mais simples, humilde, aberta, próxima das pessoas.

O que eu não sabia - mas também não acompanho estas coisas de perto - é que no papado de Bento XVI, o Cardial Jorge Bergoglio (que viria a ser o Papa Francisco) lhe havia pedido a reforma. Bergoglio estava decidido, e foram as longas conversas que ambos tiveram que o demoveram. Bento XVI, a quem muitos chamavam nazi e acusado de encobrir crimes graves no seio da Igreja, apesar de tudo prezava muito as qualidades humanas de Jorge e sabia perfeitamente do que o mundo precisava.

No filme são retratadas estas conversas, e outras, e é-nos dado a conhecer o passado tormentoso do Papa Francisco. Assistimos de perto à resignação polémica de Bento XVI e ao processo que elegeu o actual Papa. Testemunhamos a ligação improvável destes dois homens, sendo que isto, para mim, é mesmo o melhor do filme. As situações são obviamente romantizadas, eu sei, mas não deixam de ser baseadas em factos reais. Há até vários artigos que analisam o que é verdade e o que tem uma base de verdade mas que não se passou bem assim.

O que é certo é que dois homens profundamente diferentes em tudo conseguiram sentar-se, conversar, entender-se, rir, criar uma ligação. É uma pequena lição de vida, não é? E no entanto não deixa de ser um filme sobre dois velhos que acreditam numa coisa na qual eu não acredito. E sem explosões, gajas nuas ou reviravoltas de última hora se fez um filme do caraças com uma realização brutal por parte de Fernando Meirelles e dois dinossauros da interpretação.

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Fui com pezinhos de lã ver o Joker ao cinema. Por um lado, odeio filmes de super-heróis. Por outro, adoro o Joaquin Phoenix. Então, fui com expectativas moderadas.

Afinal, não tinha nada com que me preocupar. Não é um filme de super-heróis. É quase uma biografia a um dos maiores vilões da banda desenhada e do cinema. Ao contrário do que estamos habituados com estas personagens saídas dos comics, não há efeitos ou truques na manga. Aqui, o Joker é humano. É o produto da sociedade. Tal como cada um de nós.

O enredo é uma sucessão de eventos que vão acontecendo com Arthur Fleck até ele vestir a pele de Joker. Começamos por conhecer o Arthur palhaço de rua e que trabalha com crianças. Um homem simples, embora resignado, e assombrado pela doença mental. Por ser diferente, a comunidade não o deixa esquecer que ele não encaixa no estereótipo de homem adulto e bem sucedido. A cidade só lhe retorna uma fria indiferença, e até mesmo desprezo, e Arthur acaba por ser consumido pela incompreensão, pela solidão, e tudo descamba quando tudo o que ele acreditava (que já era pouco) acaba por desaparecer.

É claro que o filme não seria a mesma coisa sem Joaquin Phoenix. Nem consigo imaginá-lo de outra forma. E as palavras faltam-me para descrever o que vi este homem fazer no ecrã. Começando pela linguagem corporal, trabalhada até ao limite, até à profundidade do olhar, tudo está perfeito. Tanto que poderia ter sido um filme mudo e seria genial na mesma. Este homem fez um trabalho fenomenal para entrar na personagem e é tudo impressionante. Oscar para o Quim, já!

E depois, o resto... a banda sonora poderosa e super apropriada; o ambiente dark; a fotografia; as mortes fantásticas; as cenas perturbantes, violentas... Não percebo porque é que tanta gente odiou o filme (aliás, até percebo, porque não se enquadra nos típicos filmes fáceis e ocos dos super-heróis) e percebo as discussões sobre quem é o melhor Joker - se o Heath ou o Joaquin), mas seja onde for que se posicionem, esta é uma obra de arte que têm de ver pelo que é e deixar, pelo menos, as comparações de lado. É um dos melhores filmes do ano (senão o melhor, até agora, para mim) e aí não há volta a dar. Lamento, haters. Numa era em que tudo é robotizado, alterado, melhorado, onde a tecnologia é rainha, é uma lufada de ar fresco ter um filme tão humano e uma lenda como o Joaquin à sua frente.

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Árctico é um filme de 2018 protagonizado por Mads Mikkelsen. Pronto, o selo de qualidade está garantido, podemos acabar por aqui. É verdade que o dinamarquês "me encanta", mas o filme é mais do que o Mads. Mas não muito mais, porque todo o peso da trama recai nos seus ombros.

Ele interpreta um piloto cujo avião se despenhou algures no Ártico. Completamente sozinho num cenário branco de neve, suportando o frio imenso, vai sobrevivendo dia após dia pondo em prática as suas skills de sobrevivência. Este é um ponto que diverge dos outros filmes do género. Normalmente, os personagens que se veem nestas situações vão sobrevivendo (ou não) por tentativa e erro, fazendo inúmeras coisas erradas. Aqui, Overgård faz tudo bem, mas não é suficiente. Todos os dias, limpa a área de SOS, carrega um rádio manualmente na esperança de obter algum contacto, verifica os iscos feitos com canas improvisadas com as quais vai apanhando peixe.

Não sabemos há quanto tempo ele está ali, mas a rotina repete-se. Até ao dia em que é quebrada pela queda de outro avião... Dos dois tripulantes a bordo, uma mulher ainda respira. Overgård leva-a consigo para o seu avião caído, trata-lhe os ferimentos, dá-lhe de comer e beber quando ela tem períodos de semi-consciência. Vai falando com ela, mas dado o seu estado grave e diferente nacionalidade torna-se quase um monólogo. Depressa toma consciência de que, para ajudá-la a sobreviver, terá de sair dali. Terá de carregá-la e contar apenas consigo próprio e com um velho mapa para tentar chegar a um ponto onde pensa que conseguirá ajuda.

Assim, puxando um trenó onde carrega esta desconhecida mulher deitada, aventura-se numa difícil e longa caminhada que é uma ode ao homem versus natureza.

A beleza deste filme reside em muitos pontos. Um dos mais óbvios são os cenários fantásticos, o branco sem fim das montanhas, as intempéries, a mãe natureza arreliada. Outro, é, claro, o Mads. Esta tem de ser uma das interpretações da sua vida. Para além de carregar o filme às costas, fá-lo impecavelmente e com um evoluir de emoções que assusta. Começamos por vê-lo resignado, calmo, solitário, mas competente, nas suas tarefas, assistimos ao evoluir da sua empatia por aquela mulher e acabamos por vê-lo numa luta desenfreada e sofrida pela sobrevivência de ambos.

É um dos melhores filmes de sobrevivência que irão ver, dramático, intenso, com uma cinematrografica fantástica, com um Mads de peso, num filme quase silencioso mas que transmite emoções até quando o céu muda de cor...


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José e Pilar eram uma força da natureza - um era as nuvens brancas que passam no céu do outro; o outro era o tronco da árvore, sendo o outro a terra que o sustentava. Apesar de tão diferentes na sua génese, José Saramago e Pilar del Rio eram mais do que um casal, uma equipa - eram faíscas, complementos, eram como o amor deve ser, companheirismo, amizade, compreensão, descartando os estigmas que lhes colaram, a diferença de idade, a nacionalidade diferente; eram duas pessoas que o destino juntou e a prova de que tudo na vida é posto no seu devido lugar, mesmo que venha tarde nos anos.

Este documentário (quase ao jeito de reportagem) de Miguel Gonçalves Mendes é uma ode ao escritor, à pessoa de Saramago, e à sua musa, Pilar, o seu pilar. Eu, que tenho coração de pedra, comovi-me com a simplicidade deste homem e o seu querer dar-se aos outros. Ele, que nunca parou de escrever, que tinha tanto por dizer, e cujo medo era mesmo esse - morrer sem ter largado tudo cá para fora. Se há alguém que merecia a imortalidade, ou pelo menos viver umas centenas de anos, seria Saramago, e tenho a certeza que seria brilhante por séculos, se séculos de vida tivesse. Enfim, a sua obra viverá para sempre e quem nunca o leu está a desperdiçar um tesouro que iria mudar qualquer coisa lá dentro.

Assistimos à importância de Pilar em toda a vida de José, tanto nas coisas práticas como a gestão da sua agenda, como sendo um poço sem fundo de energia que durava e durava, em torno dele, por ele. Fiquei supreendida pelo furacão que é esta mulher, pela sua determinação, força inabalável, pela resposta na ponta da língua, pela humanidade. Vemos a intimidade simples dos dois, principalmente em Lanzarote, lar que escolheram, ilha que os acolheu como filhos da terra.

Vemos também a luta de Saramago por escolher as batalhas certas, testemunhamos a sabedoria de um génio que nasceu de pé descalço na Azinhaga do Ribatejo e que nunca prosseguiu os seus estudos. Vemos tudo isto e agradecemos por os caminhos de José e Pilar se terem cruzado. Por terem os dois existido, por serem o motor de algo tão belo que ultrapassa tudo o que poderia dizer.

O filme José e Pilar (assim como o livro que se seguiu) é uma ode à beleza, poético, imperdível, admirável, arrebatador, que só visto.

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Há 10 anos que os Rammstein não lançavam um álbum. Os fãs desesperaram, ansiaram e muitas unhas foram roídas nesta década. A banda que conheci com a óbvia Du Hast tornou-se numa das minhas favoritas de sempre - às vezes, nos momentos em que me sinto mais íntima com eles, chego a concluir que é a minha favorita. O facto de cantarem em alemão se calhar contribui para isso. Mal os percebo, farto-me menos. Quase tudo neles é simples e por isso tantas vezes são criticados. Isso e por serem provocadores com temáticas menos simpáticas. Mas não é por terem melodias menos complicadas e não tentarem encontrar o sentido da vida nas notas musicais que vou gostar mais ou menos deles. Ouvi-los adequa-se ao que estou a sentir, quase sempre, e por isso sinto-me tão próxima que dói.

Basicamente, não passa um dia em que não oiça Rammstein. Se estou no trabalho, estou quase sempre com raiva de alguém, e oiço Rammstein. Se estou no ginásio e preciso de pujança, oiço Rammstein. Se preciso de marcar o ritmo de uma caminhada com aquele teclado característico, oiço Rammstein. Se quero ouvir a melhor cover de sempre, ponho a Stripped a tocar. Portanto, precisava de novas músicas de Rammstein. Este álbum homónimo, que traz um enigmático fósforo sobre um fundo branco, não se me entrou imediatamente. As duas primeiras, Deutschland e Radio, que foram singles, tiveram videoclip e foram lançadas primeiro, conquistaram-me logo. Isto apesar de não corresponderem às típicas músicas deles. São muito mais dançáveis, combinam na perfeição o industrial e os ritmos que nos fazem abanar o esqueleto - acho até que se podem denonimar de dance metal, digo eu, que não percebo nada de música e dou os nomes que quero às coisas.

Quando o videoclip da Deutschland foi lançado foi o falatório total. Primeiro, porque "brincam com o Holocausto" e blá blá blá, depois porque metem uma mulher negra a parir cães, mas digo-vos, isto é uma produção do cacete, uma obra-prima dos videoclips modernos, um hino ao motivo pelo qual inventaram o filme, um épico dos vídeos de música.



Agora que já ouvi o álbum quinhentas vezes já gosto das músicas todas. Mas há uma, bem especial, que desde o incío me bateu bem forte e é para essa, Puppe, que é o meu destaque. Não é que seja uma música pesada - não é - mas tem ali algo de muito negro. A letra fala de um menino que fica no quarto enquanto a irmã se prostitui no quarto ao lado. Ele tem uma boneca, e na música relata-nos tudo o que está a fazer à boneca para se sentir melhor. Ora eu não sabia isto quando ouvi a música pela primeira vez, e mesmo assim senti o negrume a percorrer-me o corpo. O refrão é um grito de revolta, que até parece sair de tempo. Parece até que o Till se está a cuspir todo. Tem ali muitos diabos a sair-lhe da garganta. É uma música do caraças.


Para mim, o fósforo já pegou fogo.
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Free Solo é o vencedor do prémio de Melhor Documentário dos Óscares deste ano. Nele, podemos ver a preparação física e mental de Alex Honnold, alpinista, para subir El Capitan, em Yosemite - que já é, por si só, um local dificílimo de subir. Só que este pirado da cabeça quer fazê-lo sem cordas ou qualquer outro equipamento de segurança. Sim - Alex quer subir mais de 2300 metros, numa das rochas mais difíceis e verticais do mundo, contando apenas com as pontas dos dedos das mãos e dos pés. Um louco.

Portanto, temos a parte documental da coisa - os treinos, a preparação da filmagem suspensa, a vida profissional e pessoal de Alex - mas posso dizer que uma grande parte disto é um filme de terror. Ficamos suspensos, mais suspensos do que o próprio Alex, engolindo o fôlego, embasbacados, porque basta um pequeno erro para que ele caia e morra. E nada disto são efeitos especiais ou simulações, por isso ainda ultrapassa o terror...

Percebemos imediatamente que Alex não é uma pessoa comum. Era um menino tímido na infância que encontrou no alpinismo uma forma de escapar às convenções sociais, e que transportou essa estranheza para a idade adulta. Escalar é a parte mais importante da sua vida, e as poucas pessoas que o rodeiam estão relacionadas com a actividade. Agora, temem por ele. Apesar de ser dos melhores alpinistas sem cordas do mundo, nunca ninguém o fez em El Capitan, porque, resumindo, é suicídio.

E no meio daquelas paisagens fantásticas, da fotografia abismal - como é apanágio da National Geographic - de toda a emoção, da técnica, do drama, uma das coisas que mais me impressionou foi o medo puro das pessoas que o rodeiam. Ver membros da equipa de filmagens que nem quiseram olhar para as próprias câmaras durante a subida, com receio de que quando olhassem de volta ele não estivesse no plano, foi de remoer o coração.

Alex, no seu mutismo social, vivendo à margem daquilo a que chamamos convencional (vive numa carrinha por opção, por exemplo), com muito pouca tecnologia, sente-se peixe na água na solidão da subida, sente-se seguro ao contar apenas e só consigo, com o seu corpo, sem medos. Os níveis de confiança em si próprio são um exemplo, uma inspiração. E, claro, metemos em causa o nosso conforto, o comodismo, pensamos naquilo que nunca faremos, por falta de coragem, de esforço, por medo. Começamos por chamá-lo de louco, acabamos a pensar que só os loucos podem ser felizes.

Podem ver o documentário no National Geographic, ou gratuitamente no Videoclube de algumas operadoras.



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Ricky Gervais é uma das pessoas que mais admiro no mundo - para além daquela mente genial de onde saem grandes ideias, do elevado sentido de humor (negro), ele é um ser humano notável, um activista vegan que não se cansa de apontar o dedo a quem maltrata e abandona animais, que cria e promove acções para a sua defesa, levanta a voz contra as touradas e outras atrocidades; já para não falar das fortes críticas que não tem vergonha de tecer ao poder político.

Assim, quando a série After Life estreou, escrita e dirigida por ele, mergulhei de cabeça nos seus 6 curtos episódios. Estava à espera que fosse boa, mas não tão boa. Não é possível que tenha sido tão boa.

Em After Life, a esposa de Tony (Ricky) morreu de cancro. E ele, que outrora foi uma pessoa normal, torna-se praticamente insuportável para o resto do mundo, e até para ele próprio. Gozar a vida deixou de fazer sentido; levantar-se e realizar as tarefas normais parece despropositado; seguir em frente com a rotina parece obsceno; tudo porque metade dele morreu, e agora ele quer morrer também.

A depressão tornou-o num ser sem empatia - se ele não se consegue respeitar a si próprio, como é que iria ter em conta os sentimentos dos outros? Assim, deixou de ter filtro. Diz exactamente o que sente, extrapola toda a raiva que tem para cima dos outros, o que para nós, espectadores é, ao mesmo tempo, divertidíssimo e muito triste.

A série tem uma humanidade assustadora, e sentir, ver e ouvir alguém que passa por um período tão negro, faz-nos compreender um pouco a depressão. O impacto na sua vida é notório - a casa desleixada, as roupas por lavar; assim como o impacto nos outros - a família não sabe como lidar com ele, os colegas não sabem com lhe responder aos constantes comentários insultuosos e as pessoas que vão surgindo na sua vida não conseguem descodificar se ele está a sofrer ou é apenas um grande idiota.

É a cadela que o liga à realidade - é por ela que se levanta, que se esforça por ir ao supermercado, que opta por ocasionalmente sair de casa; é com ela que desabafa, e é ela a sua maior ligação com a falecida esposa. É uma relação terna que emociona e na qual muitos de nós nos podemos rever. Também o liga à realidade um vídeo que a sua mulher deixou, onde lhe dá poderosas indicações sobre como, basicamente, viver. Como se ela soubesse exactamente onde ele iria ter dificuldades, como se iria abaixo - como se fossem excertos de aprendizagem que o ajudam a reaprender a apreciar a vida.

After Life tem a capacidade de pôr em imagens, palavras e sons aquilo que não se consegue dizer. Acima de tudo, tem uma honesta brutalidade que choca e emociona ao mesmo tempo. Consegue ser triste, e conter em si esperança, raiva, beleza, humor negro - dá para rir e chorar no mesmo minuto. É genial, fresca, uma obra do caraças que marca um pico de Ricky Gervais. É absolutamente imperdível e está disponível na Netflix.

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Nada do que possam ter visto do Ben Stiller vos vai preparar para a excelência que é a série Escape at Dannemora. É dos melhores trabalhos de realização que alguma vez vi. Foi uma supresa dos diabos, não estava prepararada para isto. Mas já lá vamos.

A minisérie é baseada numa fuga real que aconteceu em 2015 numa prisão americana - um evento tão mirabolante e surreal que por si só ultrapassa a ficção. Os prisioneiros Richard Matt (Benicio del Toro) e David Sweat (Paul Dano) trabalharam durante meses, arquitectaram o plano perfeito para escapar e, depois de o fazerem, ainda estiveram a monte imenso tempo nas densas florestas que separam a prisão do Canadá. Para conseguirem escapar, contaram com a ajuda de Tilly (Patricia Arquette), uma funcionária da prisão que se envolveu emocional e fisicamente com ambos os condenados.

O plano arquitectado por Matt já é por si só uma obra de arte, mas conhecer todos os trâmites do mesmo, ver as suas ideias a ganhar luz, a sua personalidade calculista a surgir, assistir à forma como manipula as situações e pessoas à sua volta (especialmente Tilly) é algo muito especial e interpretado de forma perfeita por Benicio del Toro. É um papel feito à sua medida e não imagino mais ninguém a fazê-lo. Paul Dano, que pouco conhecia, surpreendeu-me deveras, como Sweat, o braço direito de Matt, o homem que representa o trabalho e a força, em oposição à parte cerebral do seu parceiro. Já agora, não posso deixar de mencionar a parte inicial do episódio 5, protagonizada exactamente por Paul Dano - deve ser o melhor long shot que alguma vez vi, é um hino absoluto à televisão, até ao cinema, e só me apetece fazer vénias ao Ben Stiller. Se virem, vão facilmente saber do que falo.

Deixei a Patricia Arquette para o fim porque não tenho muitas palavras para descrever a perfeição com que desempenhou este papel. Transformou-se fisicamente e entrou na pele desta mulher de corpo e alma. Tilly é uma mulher simples mas ambígua, que tem noção do que faz mas sem ver maldade por aí além, que representa também a vontade de escapar - da sua vida linear e sem aventura. O marido, interpretado por Eric Lange, também merece uma menção honrosa e é mais um caso extraordinário de adaptação física e emocional ao homem, Lyle Mitchell.

Houve um esforço enorme para aproximar a série à realidade, não só no trabalho extraordinário dos actores, mas também também nos locais - tanto a prisão, como a vila, os arredores, tudo o que vemos é real. Isto torna-se um aspecto muito importante que torna a narrativa ainda mais imersiva. A juntar à realização, à fotografia, à banda sonora, torna esta série uma das melhores do ano.

Esta é daquelas que, se tiverem oportunidade, é obrigatória. Está a passar no TVSéries. Foi nomeada nos Globos de Ouro para Melhor Minisérie e a Patricia arrecadou o de Melhor Atriz - super merecido. Antevejo que faça também muito sucesso nos Emmy.

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Fui ver o Bohemian Rhapsody ao cinema e saí de lá feliz. É claro que sou suspeita - os Queen são uma das minhas bandas favoritas de sempre e o Freddie Mercury é um dos mais importantes heróis que carrego junto ao peito desde criança, graças aos gostos musicais do meu pai.

Nunca seria fácil fazer um filme sobre um tema que todos conhecem, com músicas que já todos ouviram, com uma história de vida que tem sido explorada e mediatizada há décadas. Quem quer que pegasse neste filme, fizesse como fizesse, seria criticado. E é o que tem acontecido. A crítica diz, por exemplo, que este filme representa os Queen versão Disney, ou que o Rami Malek faz playback (a sério, queriam que o homem cantasse como Freddie?), e ainda que há erros temporais na narrativa. Até os há, mas às vezes, quando se realiza um filme sobre várias vidas e se tem de colocar décadas em 2 horas, torna-se necessário. E se Brian May, guitarrista dos Queen e produtor do filme, concordou com a apresentação dos mesmos, acho que o mero espectador poderá dar um pouco o braço a torcer e aceitar.

É claro que o grande trunfo do filme é a música. Ela fala por si, e aliada a um supremo Rami Malek que, vê-se a léguas, se preparou para o papel de Freddie de alma e coração, apresenta-nos as histórias de como as grandes composições surgiam, como as ideias nasceram, como a banda as defendeu, e como Freddie as suava por todos os poros.

Não considero, ao contrário do que a crítica também apontou, que a sexualidade de Freddie tenha sido demasiado explorada, até porque o maior ênfase foi dado à sua relação heterosexual com Mary Austin - o amor da sua vida, como não se cansava de repetir - e que foi muito importante como rampa de lançamento e inspiração de um Freddie a quem faltava confiança e amor fraterno.

Mais do que uma biografia musical, o filme transporta consigo muitos valores, como a amizade profunda que uniu os membros da banda, ou o valor do trabalho e da preserverança que os fez bater o pé tantas vezes a quem os desacreditava. Também a solidão, o desapontamento, a falta de esperança, de visão, as más influências, a voz do dinheiro, têm papel preponderante.

Resta referir que, pela primeira vez em muito tempo, esteve-se bem num cinema cheio. Sem interferências, conversas paralelas, risadas parvas, este era um público realmente interessado e completamente imerso no que estava a ver. Ouviam-se alguns bateres de pés ao ritmo da música, alguns a murmurar as canções baixinho, até algumas fungadelas, mas isto diz muito acerca do filme que é, das horas de entretenimento que apresentou e do engagement que provocou. Podem ir ver, à confiança!

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Estamos no ano 2018 mas ainda há poucos dias um conhecido hospital mudou as políticas de apresentação dos seus funcionários que, para além de outras coisas, não podem mostrar muita pele, e muito menos piercings e tatuagens. Estas ideias só contribuem para o pensamento errático de que aquilo que fazemos, o nosso empenho e profissionalismo, são determinados não pelo desempenho, simpatia e dedicação, mas sim pelo aspecto.

Ter uma boa imagem para atender ao público, a meu ver, não depende dos acessórios ou dos rabiscos na pele. O primeiro "acessório" obrigatório devia ser o sorriso na cara, coisa rara que devia ser inerente mas que falha redondamente. E não nos esqueçamos que as pessoas que nos roubam constantemente, as mais corruptas, mesquinhas e que se estão a cagar para nós, estão muito bem apresentáveis nos seus fatos impecáveis.

Por isso, quando vi este anúncio de emprego fiquei contente. Não é um negócio "da moda", como as novas barbearias ou uma loja alternativa - é uma peixaria, um negócio tipicamente tradicional. É mostrado o braço de um homem tatuado, que está a trabalhar. E é com naturalidade e sem dizer nada que a Sea Me diz muito. Parabéns!


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Ontem foi noite de ver os Machine Head no Coliseu de Lisboa. Eles avisaram que seríamos apenas nós e eles - sem bandas de abertura, uma setlist extensa que abrange toda a carreira, tudo para tornar a noite uma grande festa. E foi, absolutamente.

Foram horas a dar tudo - nós e eles. Nós, cá em baixo, libertando testosterona (sim, eu até eu!), suor, berros, energia, tornando-nos frequentemente numa bola negra perfeitamente sincronizada e caótica. Eles, uns gajos porreiros que estão nisto há décadas, que fazem o que fazem quase de olhos fechados e que são dos músicos mais profissionais que existem e fazem-nos frequentemente sentir especiais.

Não é para meninos - é dos concertos mais energéticos de sempre. Está-se ali para exorcizar demónios, e isso não se faz de braços cruzados. Contudo, tal como é prática corrente nos concertos de metal, o companheirismo e respeito são palavras de ordem que também fazem parte da magia e do orgulho de pertencer a esta classe, os metalheads.

Que voltem assim que quiserem e puderem, que iremos sempre recebê-los de braços abertos, nódoas negras, e o sorriso mais sincero no rosto.










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Desafiou não só as leias da física como também viveu mais do que alguma vez alguém pensou, quando lhe foi diagnosticada Esclerose Lateral Amiotrófica, que o atirou bem cedo para uma cadeira de rodas. Isso não o impediu de se tornar uma das principais figuras deste século e do passado, trabalhando todos os dias da sua vida e mantendo um sentido de humor desafiante.

Um físico brilhante, um pioneiro, corajoso, um homem fora de série, que se debruçou sobre a teoria dos buracos negros e a teoria do espaço-tempo. Autor, professor, pai, avô, inspirou várias gerações e vai concerteza continuar a inspirar. Um homem que já era mito há muito tempo e vai guardar esse estatuto para sempre.

Influenciou a cultura pop, participando em séries de televisão (como Os Simpsons, A Teoria do Big Bang, Futurama, Star Trek: The Next Generation), inspirou documentários, a sua característica voz mecanizada foi utilizada em vários meios, sendo o meu preferido, claro, a música Keep Talking dos Pink Floyd. O filme sobre a sua vida, A Teoria de Tudo, onde Eddie Redmayne lhe deu corpo e foi premiado com um Óscar, é uma grande obra cujo sucesso deu ainda mais notoriedade à sua pessoa e à doença.

E se eu, uma leiga, sou sua fã incondicional, imagino o tamanho da perda para a comunidade científica. Fica o trabalho, que não é pouco, a imagem, a preserverança, a coragem, o arrojo, que o fazem eterno. A Humanidade foi uma sortuda por teres existido.


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Não sei quantas vezes já os vi. Venham cá as vezes que vierem, irei sempre vê-los. Ou até deslocar-me lá fora, como já fiz. Irei, mesmo que venham com as muletas e em cadeira de rodas. Porque foram a primeira banda de metal que ouvi - a partir do momento em que me emprestaram o Black Album na escola a minha vida nunca mais foi a mesma. Foi por eles e através deles que o metal se apoderou de mim e fez de mim a pessoa que sou hoje. Foram a porta de entrada para um mundo do qual me orgulho de pertencer, onde se encontra muita da família que eu escolhi. Foram a chave para um modo de vida que me assenta que nem uma luva. Foram essenciais para me descobrir.

Ainda mal tinha maminhas e já sonhava vê-los de perto, tinha fantasias com o James e os cadernos da escola preenchidos com juras de amor eterno. Se eu dissesse a essa adolescente que iria tê-los pertinho, pertinho, pertinho, ali ao alcance de alguns braços, ela iria salivar e chorar baba e ranho.

Irei vê-los sempre. E ontem fui. Desde a última vez que os vi têm o cabelo mais branco e alguns quilos a mais. Eu também já tenho alguns brancos, e uns quilos a menos. Todos mudámos, mas somos exactamente os mesmos. Eles continuam a ser uns putos que sabem o que estão a fazer e que se divertem em palco. Eu continuo a olhar para eles com aquele brilhozinho nos olhos. O público continua a esgotar os lugares por onde eles passam. Eles continuam a gostar de nós, de tocar para nós, e a dizer que somos o melhor público do mundo. E às vezes até acho que somos.

A empatia entre Metallica e Portugal é velhinha mas bem firme. É uma história de amor que acredito que só acabe quando todos morrermos - nós e eles. Eles mudaram o mundo, mudaram a música, e quer gostem deles ou não, quer já estejam fartos ou não, terão de admitir que a música é o que é hoje porque eles existem.

Quanto ao concerto de ontem. Os jovens que ponham os olhos neles. Um palco no meio do recinto - proporcionando uma grande proximidade - uns quadrados por cima do palco a passar vídeos que contam histórias e uns pequenos drones que apareceram por lá para dar uns efeitos foram as únicas coisas necessárias para um espectáculo do caraças. Não estou a criticar as bandas que andam com uma parafernália de coisas atrás, camionetas de luzes, efeitos, confetis, realidade aumentada - cada um faz o que quer e cabe tudo na definição de espectáculo - mas há qualquer coisa na simplicidade que nos liga mais à música e uns aos outros.

Terem tocado Xutos e dedicado o momento ao Zé Pedro. Eles não tinham de o fazer. Andam por cá desde antes de eu nascer. Nem precisam de tocar para viver. E no entanto dão-se ao trabalho de aprender músicas locais e de saber mais sobre as bandas dos países que visitam, e isso para mim é humildade. Ser uma das maiores  bandas do universo - senão a maior - e fazê-lo, torna-os ainda maiores.

Irei sempre. E ficarei com saudades deles, todas as vezes.










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Curb Your Enthusiasm é uma série de 2000 que tem como estrela principal Larry David, nada mais nada menos do que o co-autor do Seinfeld (a par do próprio Jerry Seinfeld), argumentista e produtor executivo de uma das melhores séries de comédia de sempre.

Em Curb Your Enthusiasm, Larry interpreta uma versão mais ou menos ficcional dele próprio, como um argumentista semi-reformado e com muito dinheiro no bolso devido ao sucesso de Seinfeld. Segundo o mesmo estilo, há muito humor (negro), inúmeras peripécias, e a participação especial de vários actores de renome (interpretanto quase sempre versões deles próprios), incluindo os de Seinfeld, que se debatem com a popularidade que atingiram na série mas que agora não conseguem arranjar mais trabalhos porque estão grudados àquelas personagens que todos conhecemos.

As situações em que Larry se mete são hilariantes, e identifico-me bastante com ele porque está sempre a meter-se em merda por ser demasiado sincero, como se não tivesse um filtro social que o impedisse de dizer tudo o que pensa. É como se ele não conhecesse as convenções sociais e estivesse sempre a meter-se em apuros e em mal-entendidos. Para além disso, tudo o irrita. Portanto, o que não faltam são situações desconfortáveis e há muito que não me ria à gargalhada a ver uma série.

Apesar de já ter uns anitos nunca a tinha visto, e agora que comecei não consigo parar. Estou quase a acabar a segunda temporada, e há 9 até agora. Acho que vocês também vão gostar.

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Considero o Paulo Furtado, aka, The Legendary Tiger Man, um dos melhores músicos não só nacionais, como internacionais, e acho que tem sido subvalorizado ao longo da carreira, que já vai bem longa. Se ele tivesse nascido noutro país acredito que reconhecimento não lhe faltaria.

O seu último trabalho, Misfit, foi lançado há alguns dias e depois de o ouvir em loop durante algum tempo posso dizer que gosto imenso. Tem uma boa vibe, com muito, muito, rock n' roll e com aquela vertente blues que ele tão bem incorpora. O álbum foi gravado no Rancho de La Luna, no deserto californiano, e se fechar os olhos consigo sentir a vibração árida desértica muito facilmente. É um disco com personalidade, profundo, mas que nos faz mexer bem à superfície. É impossível ouvi-lo parado.

Pela primeira vez, Paulo Furtado deixou de ser one-man-band e contou com a participação de Paulo Segadães na bateria e João Cabrita no saxofone. O resultado é amplamente positivo. Se tivesse de escolher uma faixa seria provavelmente a primeira, Motorcycle Boy, que é uma introdução pujante que nos põe imediatamente a bater o pé. Infelizmente não tem videoclip, e deixo aqui a também belíssima Fix of Rock'n'Roll.

O álbum ainda não foi lançado fisicamente mas pode ser ouvido gratuitamente nas plataformas digitais, incluindo no Spotify.

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No decorrer da II Guerra Mundial, milhares de soldados franceses e britânicos vêem-se encurralados pelos alemães em Dunquerque. Esperam pelo resgate por via marítima que os levará para casa. Mas o cerco do exército alemão aperta e não existe nenhum sítio seguro onde as tropas possam esperar. Na praia, filas e filas intermináveis de soldados esperam lugar no próximo barco.

Esta é a premissa deste filme de guerra de Cristopher Nolan, que conseguiu, desde o momento inicial até ao absoluto final, criar um ambiente aflitivo, urgente, de cortar a respiração. Quase sem diálogos, não há nada que fique por dizer, seja através da acção constante, da banda sonora sublime ou da cinematografia gigante.

Em terra, acompanhamos os soldados que tentam salvar-se no meio do caos, sem saber para onde se virar, fugindo dos tiroteios de um lado e dos bombardeamentos que vêm pelo céu, do outro. No ar, embrenhamo-nos nas aguerridas lutas aéreas onde é matar ou morrer. Pelo mar, vemos o desespero dos que tentam sair dali a todo o custo mas que acabam por se colocar num perigo ainda maior.

E estas três vertentes que acompanhamos rigorosamente não seguem necessariamente a mesma linha temporal, e no entanto a narrativa nunca é confusa. Faz tudo parte do génio do Nolan e a sua incrível capacidade para contar histórias através de todos os meios que dispõe - visuais, sonoros, textuais, históricos.

Este filme é talvez o melhor que vi este ano, e não me admirava nada se arrebatasse uma carrada de Óscares.

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Este não é um daqueles exemplos que parecem distantes geograficamente e que por isso podem parecer fantasia - a dona Palmira Cruz tem 100 anos, é de Linda-a-Velha, e vai ao ginásio 5 dias por semana. A sua saúde mental e física é invejável. Ela encontrou no ginásio um escape depois da morte do marido e é um exemplo para as gerações mais jovens (mesmo que isso signifique acima dos 70 anos!). Há pessoas que encontraram nela um exemplo e uma força para elas próprias fugirem à inércia e à solidão da terceira idade.

A mulher que assistiu a duas guerras mundiais não tem filhos, mas adoptou como sua a filha da madrasta que morreu bem cedo. Apesar de ter esta filha e "netos emprestados", prefere morar sozinha e faz quase tudo sem ajuda - tem apenas uma empregada uma vez por semana que faz os trabalhos mais difíceis. De resto, cozinha, limpa e vai ao ginásio como gente grande.

Sendo uma solitária que adora desporto, revejo-me totalmente nesta senhora, e quem me dera poder chegar a esta idade, se tiver esta destreza, genica e clareza das ideias. Dona Palmira, você é grande!

Conheçam aqui a sua história.


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