José e Pilar (2010)

by - quinta-feira, junho 06, 2019



José e Pilar eram uma força da natureza - um era as nuvens brancas que passam no céu do outro; o outro era o tronco da árvore, sendo o outro a terra que o sustentava. Apesar de tão diferentes na sua génese, José Saramago e Pilar del Rio eram mais do que um casal, uma equipa - eram faíscas, complementos, eram como o amor deve ser, companheirismo, amizade, compreensão, descartando os estigmas que lhes colaram, a diferença de idade, a nacionalidade diferente; eram duas pessoas que o destino juntou e a prova de que tudo na vida é posto no seu devido lugar, mesmo que venha tarde nos anos.

Este documentário (quase ao jeito de reportagem) de Miguel Gonçalves Mendes é uma ode ao escritor, à pessoa de Saramago, e à sua musa, Pilar, o seu pilar. Eu, que tenho coração de pedra, comovi-me com a simplicidade deste homem e o seu querer dar-se aos outros. Ele, que nunca parou de escrever, que tinha tanto por dizer, e cujo medo era mesmo esse - morrer sem ter largado tudo cá para fora. Se há alguém que merecia a imortalidade, ou pelo menos viver umas centenas de anos, seria Saramago, e tenho a certeza que seria brilhante por séculos, se séculos de vida tivesse. Enfim, a sua obra viverá para sempre e quem nunca o leu está a desperdiçar um tesouro que iria mudar qualquer coisa lá dentro.

Assistimos à importância de Pilar em toda a vida de José, tanto nas coisas práticas como a gestão da sua agenda, como sendo um poço sem fundo de energia que durava e durava, em torno dele, por ele. Fiquei supreendida pelo furacão que é esta mulher, pela sua determinação, força inabalável, pela resposta na ponta da língua, pela humanidade. Vemos a intimidade simples dos dois, principalmente em Lanzarote, lar que escolheram, ilha que os acolheu como filhos da terra.

Vemos também a luta de Saramago por escolher as batalhas certas, testemunhamos a sabedoria de um génio que nasceu de pé descalço na Azinhaga do Ribatejo e que nunca prosseguiu os seus estudos. Vemos tudo isto e agradecemos por os caminhos de José e Pilar se terem cruzado. Por terem os dois existido, por serem o motor de algo tão belo que ultrapassa tudo o que poderia dizer.

O filme José e Pilar (assim como o livro que se seguiu) é uma ode à beleza, poético, imperdível, admirável, arrebatador, que só visto.

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