The Two Popes (2019)

by - quinta-feira, janeiro 30, 2020


Em primeiro lugar, devo salientar o mais óbvio. A parecença física entre o actor Jonathan Pryce e o Papa Francisco é assombrosa. Já o havia notado no Game of Thrones (na altura surgiram imensos memes de comparação) e aposto que quem teve a brilhante ideia de fazer este filme foi precisamente porque era necessário pôr o homem a interpretar o Papa. Era o desígnio divino. Até conheço uma pessoa que pensava que o Papa Francisco tinha dado uma perninha como actor. Ele sentiu-se estúpido quando lhe disse, mas aceito o erro. É uma semelhança paranormal.

Feito o aparte, gostei bastante do filme da Netflix que concorre com 3 nomeações aos Óscares - Melhor Filme, Melhor Actor para Jonathan Pryce e Melhor Ator Secundário para Anthony Hopkins. Considero até que não teve (tem) a atenção devida, muito por causa de todo o buzz do The Irishman (imerecido, na minha opinião), também Netflix.

O Papa Bento XVI e o Papa Francisco são, como é do conhecimento geral, pessoas completamente diferentes. O primeiro é conservador, tradicional, e o seu papado esteve envolto em polémicas que abalaram a Igreja católica. Já o segundo, transporta consigo ideias de progresso e perdão, sendo uma pessoa muito mais simples, humilde, aberta, próxima das pessoas.

O que eu não sabia - mas também não acompanho estas coisas de perto - é que no papado de Bento XVI, o Cardial Jorge Bergoglio (que viria a ser o Papa Francisco) lhe havia pedido a reforma. Bergoglio estava decidido, e foram as longas conversas que ambos tiveram que o demoveram. Bento XVI, a quem muitos chamavam nazi e acusado de encobrir crimes graves no seio da Igreja, apesar de tudo prezava muito as qualidades humanas de Jorge e sabia perfeitamente do que o mundo precisava.

No filme são retratadas estas conversas, e outras, e é-nos dado a conhecer o passado tormentoso do Papa Francisco. Assistimos de perto à resignação polémica de Bento XVI e ao processo que elegeu o actual Papa. Testemunhamos a ligação improvável destes dois homens, sendo que isto, para mim, é mesmo o melhor do filme. As situações são obviamente romantizadas, eu sei, mas não deixam de ser baseadas em factos reais. Há até vários artigos que analisam o que é verdade e o que tem uma base de verdade mas que não se passou bem assim.

O que é certo é que dois homens profundamente diferentes em tudo conseguiram sentar-se, conversar, entender-se, rir, criar uma ligação. É uma pequena lição de vida, não é? E no entanto não deixa de ser um filme sobre dois velhos que acreditam numa coisa na qual eu não acredito. E sem explosões, gajas nuas ou reviravoltas de última hora se fez um filme do caraças com uma realização brutal por parte de Fernando Meirelles e dois dinossauros da interpretação.

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