Obrigada, Lucho

by - quinta-feira, abril 16, 2020



Confesso que quando morre um escritor que aprecio me custa mais do que quando se trata de algumas pessoas que fizeram parte efectiva da minha vida e que nela nada, ou só mal, acrescentaram.

Era muito jovem (tinha talvez uns 13 anos) quando li o meu primeiro livro de Luís Sepúlveda - "História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar". Esses tempos já lá vão, mas lembro-me de gostar. Lembro-me também de o reler, já em adulta, e dos novos contornos que assumiu dentro de mim. Com o discernimento da maturidade, a história tomou todo um novo peso, e os ecos do respeito e da amizade bateram ainda mais forte. É essa parte da magia dos livros de Sepúlveda - capazes de encantar as gerações mais novas e de tocar os meandros da alma dos adultos.

No início deste ano, numa das idas à terrinha, visitei a estante para revisitar alguns livros que não lia há algum tempo e trouxe comigo o "Diário de um killer sentimental". Um livro completamente diferente, cómico, irónico, e no entanto, como sempre, com uma moral elevada. Quis o destino que o estivesse a ler enquanto Sepúlveda estava a ser diagnosticado com o Covid-19. 

E agora, partiu. Senti uma pequena partícula dentro de mim crescer e manifestar um extremo desconforto. Ele fez parte do meu crescimento e, consequentemente, da pessoa que sou. A minha inteligência emocional é melhor também por causa dele. "O mais português dos escritores latino-americanos", com uma história de vida tão complexa e rica que o ajudou a ser um ser humano melhor. Dizem os amigos que gostava de ser tratado por Lucho. Obrigada por tudo, Lucho. És um dos que vai viver para sempre.




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