Green Book (2018)

by - quarta-feira, fevereiro 27, 2019


Tony "Lip" Vallelonga é um americano de ascendência italina, chefe de família, que trabalha como segurança num clube nocturno. Quando este fecha portas para renovações, Tony procura trabalho. A oferta mais promissora surge de onde menos espera - uma vaga para ser motorista de um pianista de renome, Don Shirley, que por acaso era negro.

O facto de ser um homem duro com jeito para usar os punhos foi determinante para ser escolhido, e o motivo começa a ser óbvio cedo no filme - Don Shirley é frequentemente vítima de ataques racistas nesta América dos anos 60. Tony, que é um homem também ele alimentado por alguns preconceitos, começa por torcer o nariz por ter de servir um homem negro e com manias de estrela, mas, em última análise, precisa de alimentar a família e tenta encarar aquele trabalho como outro qualquer.

Portanto, temos um homem do povo, branco, algo preconceituoso, a conduzir um pianista negro, com maneiras nobres e muitas manias e requisitos, pelas estradas americanas - e isto, por si só, é um óptimo começo para um filme que, ainda por cima, é baseado em factos reais. Todos sabemos que, quando a realidade ultrapassa a ficção, ainda ficamos mais intrigados, e embrenhamo-nos mais na história.

É um par estranho que vai vivendo algumas aventuras e dissabores nos locais por onde passa e, apesar de se ter passado há décadas, a história faz ecoar em nós resquícios de um tempo que não ficou assim tanto para trás. O racismo ainda é, infelizmente, assunto do dia, e enquanto houver ódio e intolerância no coração humano, não irá acabar. Ou seja, nunca acabará. São as situações mais extremas que nos abalam e que nos fazem questionar como é que tal foi possível, e como é que ainda é possível, e porque é que julgamos os outros pela aparência, como se a cor da pele ou o local onde nascemos determinassem tudo o que podemos ser.

O par de actores é espectacular e foram feitos para estes papéis. Tanto Viggo Mortensen como Mahershala Ali estão perfeitos (este último um digno vencedor do Oscar de Melhor Ator Secundário), revelando um entrosamento e um trabalho extraordinário para entrar na pele daqueles homens que o destino juntou para lhes mudar a vida. As diferenças entre os dois homens, as suas origens, estrato social, tudo está patente nas linguagens corporais, nos modos e gestos, nas maneiras de falar ou na linguagem a si.

O filme tem muita elegância em todos os seus atributos, como a realização, o visual ou a banda sonora tocante. Agora que já vi quase todos os filmes que foram nomeados aos Oscares, posso dizer que era o meu terceiro favorito à corrida (depois de The Favourite e Roma, dos quais falaremos um dia), mas consigo aceitar completamente a decisão de ter ganho o prémio. Pode ter sido uma vitória política, mas pouco importa. É um grande filme, trabalhado por grandes profissionais, com todos os ingredientes para agradar a um público alargado e muito bem executado, que toca algo no mais profundo de nós.

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2 comentários

  1. Este filme está na lista para ver. A cerimónia dos Oscars é uma tristeza, o cinema é cada vez mais esquecido, para politica já me chegam as tristes notícias deste século XXI. Até o genial Stanley Donen foi esquecido nos homenageados que partiram. Será que aquela gente desconhece o cineasta de "Singing in the Rain"?
    Boa noite!

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  2. Antes ainda via, mais tarde, a cerimónia, mas agora é escusado. Gosto à mesma de acompanhar os nomeados, vencedores, menções especiais, mas tornou-se um pouco o circo que é o reflexo da sociedade, com muito pouco sumo para retirar. Lamento dizê-lo, mas hoje em dia contam mais os vestidos da red carpet do que o Donen. Boa noite ;)

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