Pessoas estranhas #114 - as ciganas do Campo Grande

by - quinta-feira, fevereiro 14, 2019

Trabalho no Campo Grande, Lisboa. Todos os dias, à hora do almoço, vou ao ginásio, e tenho de atravessar a entrada do metro. E todos os dias tenho de fazer uma pista de obstáculos por entre as ciganas que me esfregam os "xáles", os quatro pares de brincos por 50 cêntimos ou a "calça da moda" na cara. Para além de serem umas 10 a barrar a entrada, obrigando as pessoas a respirar-lhes o bafo para conseguir passar, corre-se o risco sério de ficar surdo com tantos decibéis de gritos.

OLHÓ XÁLE A DOIS E MEIOOOOO
Ó CARA LINDA, OLHÁ CAMISOLA DAS MODAS
É SÓ HOJE, É SÓ HOJE, UM AÉRIO, SÓ UM AÉRIO

Nada a que não estejamos habituados nas feiras, em espaços abertos. Agora, numa entrada de um metro onde aquela mulherada faz eco e onde inventam bancas em cima de caixotes improvisados que nos barram a passagem, é chato. A juntar ao homem das cautelas, ao outro que vende carteiras, aos jeovás, à dos cachorros quentes, à das pipocas, aos da Amnistia Internacional e demais pedinchões, aos professores Mamadus a distribuir aqueles quadradinhos brancos de promessas, aquela entrada de metro tem mais sovaco por metro quadrado que o aeroporto em dia difícil.

Engraçado, engraçado, é quando aparece a bófia. Nesses momentos vê-se quem é que tem o seu negócio "legalizado". É claro que as ciganas pegam sumiço. Só as vi serem apanhadas uma vez, ficando com o seu material confiscado. De resto, têm uma habilidade inacta para fugir aos senhores agentes, como se os farejassem e comunicassem entre si por pensamento. Puf, já foram. Da sua presença, só resta a memória, os ecos nos ouvidos, e pedacinhos de plástico e cartão no chão, ou um eventual brinco da moda.

Mas quando pensamos que a costa está livre do mulherio, basta que a bófia dobre a esquina para elas aparecerem novamente vindas do nada. Não faço ideia onde estiveram. Parecem a CMTV, escondidas debaixo de uma pedra, prontas para qualquer desgraça e infortúnio, uns autênticos Luis de Matos do material contrafeito.

Odeio que invadam o meu espaço pessoal. Sejam as ciganas que passam o material das leggings (ou légues) no braço para eu sentir o estupendo material, seja o professor Mamadu que me estende o papelucho até mo roçar no nariz, seja estar com a cara à altura do cu de alguém quando subo escadas, não interessa, o importante é manter as pessoas à distância de, pelo menos, um braço. Se for um braço do Shaquille O'Neal, melhor. É por isso que estas mulheres me dão afrontamentos, pois sinto-me violada pelos seus corpos que insistem em roçar no meu e pelas suas vozes que entram por mim adentro sem pedir autorização. 


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4 comentários

  1. E ainda não anda por lá um pedinchão que dá "abraços" às pessoas, diz que não é um assalto e pede uma moeda...
    Incomodam, mesmo! Desaparecem porque têm um olheiro, normalmente de poouca idade...
    Bom dia

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  2. Que horror... isto realmente a criatividade dos pedinchões está a aumentar! Beijinho ;)

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  3. O pedinchão anda na zona do Centro Comercial Colombo e já é famoso, por aquilo que vi e assusta mesmo. A última vez que passámos pelo Cmpo Grande tivemos sorte, era domingo e íamos ao Museu Bordalo Pinheiro, era dia de descanço:-)
    Bom domingo!

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    1. Realmente há pessoas muito estranhas mas é giro ler as vossas histórias :D bom domingo!

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