Nunca o mundo esteve tão polarizado e o ódio nunca esteve tão normalizado.
Muitos de nós já se confrontaram com o ódio irracional em membros de família ou amigos. Quem nunca aturou um tio racista num almoço de natal ou uma cunhada homofóbica? Respiramos fundo, mantemos a calma, esperamos que o tempo passe e cada um vai para sua casa. Sabemos que só vemos aquela pessoa num outro evento social longínquo e a coisa passa. No entanto, no tempo presente já não é bem assim. Ser mesquinho e odioso parece ser a regra. Existe uma mentalidade de manada desgovernada, não apoiada em factos ou dados sólidos, mas só porque podem. Não percebo o que ganham com isso. Os salários aumentam? Arranjam automaticamente médico de família? A renda fica mais baixa? Qual é o benefício real de se ser odioso, ou qual é o prazer individual que recebem por se ser um filho da mãe?
O problema cresce quando se trata de pessoas com quem já convivemos há muitos anos, pelas quais temos alguma espécie de carinho. Embaladas por um clima que as favorece e que as protege, soltam a franga e toda a verborreia associada. Vai para a tua terra. És mulher e o almoço não se faz sozinho. Foste violada porque estavas a pedi-las. Foste em missão humanitária, podes ser torturada e morrer que eu fico a rir. Quando uma pessoa que nos é querida sai da caverna emocional onde estava enfiada e começa com este tipo de discurso, o que é correto fazer? Ter paciência, conversar e tentar que entenda factos? Fazê-las ver que estão a ser levadas por fake news? Explicar-lhes que as técnicas que estão a levá-las ao ódio já têm barbas? Provar-lhes que os instigadores de ódio não querem saber deles e das suas necessidades?
E quando tudo falha? Quando essas pessoas não querem ouvir, não querem debater, só querem atacar, marginalizar, generalizar? Removemo-las das nossas vidas? Passamos uma borracha e apagamos tudo o que foram para nós a um dado momento? Como se pode gostar ou amar quem só odeia? É cansativo e inglório.
Outras questões se levantam. A pessoa sempre foi assim e agora sente-se legitimada? Ou é vulnerável, o público alvo certinho e direitinho, e foi na cantiga? É um novo tipo de problema causado pela atualidade e que gera desconforto entre amigos, famílias, namorados, colegas de trabalho, vizinhos. Não existe um manual de conduta, passos certos a dar, cada caso será um caso. É mais um motivo de ansiedade nas nossas vidas - algo que nos torna incompatíveis em termos morais e éticos com alguém que foi ou é importante. Só posso desejar que se encontrem soluções e pontes comuns e, caso contrário, que possam seguir com a vida em paz.
Ser uma pessoa normal e racional não custa assim tanto. Viver sem desejar o mal a ninguém que não nos fez mal devia ser apenas e só a norma. Para onde é que foi o bom e velho "vive e deixa viver"? Qual é o mal de tentarmos fazer do mundo um lugar harmonioso e agradável para todos?
Tantas perguntas, zero respostas.
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