"(...) É o sangue que aquece... Ai, onde é que andará o meu amor, que me faz tanta falta... Estou-lhe cá com uma sede. O meu amor. Então, eu não sou diferente das outras pessoas. É cá um esquenturamento. É o calor que entra dentro do corpo da gente. Fica tudo em brasa. Mal um toquezinho e, ui, queima logo. Até faz faÃsca. Bem chegando por aà Julho, é que se vê. Só não quer quem não pode. Quem está vivo, está vivo."
in "Cal", de José LuÃs Peixoto (2007)
in "Cal", de José LuÃs Peixoto (2007)
É o pensamento. Só o pensamento. O calor, as bochechas rosadas, uma ânsia cá dentro. É do tempo. É do ambiente. É da época. É destes calores que andam a chegar, estes calores doentios. São as vontades, os ventos suaves, o formigueiro no estomâgo, a boca seca. São os olhos a brilhar, e as pernas bambas. São os sorrisos, os toques, as provocações. É a pele na pele, o roçar dessa réstea de vida que nos corre nas veias. É respiração acelerada, palpitações. É loucura, exotismo, cegueira. São os olhos fechados, o arrepio na espinha. E fica tudo em brasa. Toda a gente quer o mesmo, sentir-se vivo.
E eu, morta, inerte, insensÃvel, fria.
E eu, morta, inerte, insensÃvel, fria.