Sharp Objects (minisérie, 2018)

by - quarta-feira, setembro 05, 2018


Camille Preaker, interpretada por Amy Adams, é uma repórter que é enviada à sua terra natal, onde não regressa há muitos anos, para cobrir a história de um assassinato. O seu editor, que é também seu amigo, acha que a proximidade de Camille àquelas pessoas e à pequena cidade de Wind Gap pode ser a opção certa, não só para dar luz ao mistério mas também porque acha que lhe vai fazer bem conviver com os demónios do passado.

E são muitos. Vamos conhecendo cada um deles, sendo talvez o maior a sua mãe. Patricia Clarkson dá corpo a essa mulher estranha, hipocondríaca, que acha ter o mundo a girar à sua volta, e que vive num drama constante. Vamos tendo alguns flashbacks que nos ajudam a perceber todos os males que afligiram Camille durante a sua infância e adolescência, e vamos compreendendo porque é que é tão difícil para ela regressar a casa e enfrentar aquelas pessoas e as recordações.

Em Wind Gap vive não só a mãe, mas também o padrasto e a meia-irmã de Camille. Esta, com 13 anos e dona de uma beleza invejável, tem em si um pouco da rebeldia de Camille mas também algo de sinistro, certamente herdado da mãe. É a oportunidade para as duas se conhecerem melhor, e vamos vendo interacções muito interessantes entre as duas. Antigas amizades, amores, desconfianças e vergonhas vão sendo também desenterradas.

Há sempre mais camadas por descobrir - as coisas são sempre mais profundas do que aquilo que parecem. E isto é válido tanto para a vida de Camille e da sua estranha família, mas também em relação à onda de crimes que insiste em tornar-se cada vez maior, e envolta em mais mistério. Camille não vai olhar a meios para chegar ao fundo da questão, dando origem ainda a mais animosidade com os habitantes de Wind Gap, onde já se sente uma estranha, e da sua própria família.

Esta é certamente uma das séries do ano. Tem uma realização, fotografia e edição do outro mundo, aliadas a interpretações fora de série. Eu nem simpatizava muito com a Amy Adams, mas Sharp Objects fez-me mudar completamente a razoável opinião que tinha sobre ela. Talvez porque é um papel diferente de tudo o que fez até agora. Aqui, ela é vulnerável, problemática, viciada, negligenciada, incompreendida, e não a mulher bonita e forte que normalmente vemos no grande ecrã. Por mim, o Emmy pode ser já entregue.

Há também que destacar Patricia Clarkson no papel da mãe. Está tão perfeita que nos desperta as piores sensações do mundo, como é o pretendido. Desde raiva, nojo, medo, desconfiança, aquela mulher loira com algo de angelical consegue passar-nos a completa imagem oposta das aparências que quer passar para a comunidade.

Tenho também de mencionar os fabulosos flashbacks. O passado e o presente, por vezes, enrolam-se, conforme Camille vai recordando certas pessoas e situações, e essas viagens ao passado são supremas. O trabalho de edição é fantástico, as passagens entre as duas épocas são sublimes e só mesmo vendo para perceber. O papel de Sophia Lillis como Camille adolescente também contribui em muito para esse sucesso.

Daqui a uns tempos (não agora, que tenho a história demasiado presente), quero ler o livro de Gillian Flynn com o mesmo nome, no qual é baseado esta série. Se tiverem de escolher uma série para ver nos próximos tempos esta é altamente recomendada. Tem apenas 8 episódios e vê-se num instante, e sem conseguir parar, e com uma grande capacidade de nos deixar de queixo caído.

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