Hoje não é um dia qualquer. É um dia que me faz reviver os últimos 30 meses, o melhor perÃodo de sempre da minha vida. Talvez daqui a um tempo olhe para trás e diga que afinal não, foram uma merda, mas sei que será de boca para fora, uma grande mentira. Tenho sido mais feliz do que era, faz hoje 30 meses. Não tenho quaisquer saudades da minha vida passada. Recordo-a, revivo-a, mas prefiro estar onde estou agora, e com quem estou agora, fazer o que faço agora. Não tem sido sempre um mar de rosas, mas até os percalços sabem bem para nos lembrar que não passam de nada, comparado com o que já foi passado há muitos, muitos anos atrás.
Mais uma viagem marcada, finalmente! Desta vez o destino é a Bélgica, mais precisamente Bruxelas e Anderlecht. Lá vou eu para a terra dos waffles, do chocolate, do Van Damme e do Michel Preud'Homme, que chatice. Agora é contar os meses e os dias para sair por uns dias deste paÃzinho cujos dirigentes me dão nojo, vómito e vontade de lhes cagar na boca.
A nossa casa, o nosso templo. Mais do que quatro paredes caiadas, vidros duplos ou portas blindadas. A nossa casa vive, como nós, vê-nos crescer, amadurecer, chorar, rir. Vê-nos sós ou completamente rodeados, a comer, a dormir, a ver televisão. A nossa casa respira connosco, e por vezes é quente, ou fria, ou húmida. Escuta-nos a falar, escuta os nossos silêncios, protege-nos e dá-nos atenção. Também exige, claro, e aquele peso na consciência que nos dá em dias de limpezas é a nossa casa a falar mais alto e a pedir-nos por favor para deixarmos de ser negligentes e porcos. A nossa casa fica cheia com o cheiro da comida a fazer, com as vozes das visitas, com os nossos passos a percorrê-la todos os dias. E quando saÃmos a casa continua lá. Na penumbra, existindo, emitindo os sons próprios de ser uma casa. Aguarda por nós, sempre, segura, à distância de uma chave que nos dá acesso a uma das coisas mais preciosas que nos podemos dar ao luxo de ter, nestes dias - um tecto.
Há muitas pessoas que tal como eu já devem ter chegado a um ponto de cansaço extremo. O ponto em que não se respira, não se vive, apenas se desempenham tarefas, como se fossemos os robocops da vida civil. Só que ao contrário do robocop, as gentes como eu sentem bem os balázios, as explosões, e o passar do tempo. As opções que restam não são muitas, basicamente ou se aceita este estilo de vida do sempre-a-correr, ou não se aceita e tenta-se começar de novo. Como nos dias de hoje começar de novo é mais difÃcil do que voltar a enfiar-me na vagina da minha mãe, resta aguentar e ser uma super-mulher, uma mulher de ferro, wolverina, batwoman, uma robocopa. E quem é feito de ferro não precisa de dormir, não é?