"Absorta, constata que não morreu mas não está mais forte coisa nenhuma. Todos os dias o quer deixar sabendo que não o deixará. Todos os dias repete que será impossÃvel perdoar-lhe, sabendo que, mesmo sem perdoar, permanecerá.
Como é que dizia o poeta? Autocadáver."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário"
Somos tão fracos. Repetimos em frente ao espelho que caso algo nos aconteça, fazemos assim ou assado. Que se for connosco, não admitiremos. Seguiremos em frente sem olhar para trás e sem dificuldades. Dizemos aos outros: ai, se fosse comigo... O tanas. Somos todos iguais, e todos fracos. Somos pisados, e ficamos. Somos desrespeitados, e ficamos impávidos. Gozam com a nossa cara, e continuamos aqui. Achamos sempre que é tarde demais para mudar. Tarde demais para lutar, para dizer basta.
Mas não somos parvos.
Sentimos a nossa fraqueza e a vergonha que dela advém. A humilhação.
E uma pessoa que passou a vida a enganar e a esconder tem uma certa experiência na coisa. Sente à légua que algo foi escondido debaixo do tapete. Não é preciso dizer-se nada. Sente-se, sabe-se.
Por isso, a quem constantemente atira areia para os olhos, fica o aviso: eu sei. E ainda aqui estou. Feita parva. Mas consciente de que sou mesmo parva. Até me arrepender. Morta e desenterrada, autocadáver.
Como é que dizia o poeta? Autocadáver."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário"
Somos tão fracos. Repetimos em frente ao espelho que caso algo nos aconteça, fazemos assim ou assado. Que se for connosco, não admitiremos. Seguiremos em frente sem olhar para trás e sem dificuldades. Dizemos aos outros: ai, se fosse comigo... O tanas. Somos todos iguais, e todos fracos. Somos pisados, e ficamos. Somos desrespeitados, e ficamos impávidos. Gozam com a nossa cara, e continuamos aqui. Achamos sempre que é tarde demais para mudar. Tarde demais para lutar, para dizer basta.
Mas não somos parvos.
Sentimos a nossa fraqueza e a vergonha que dela advém. A humilhação.
E uma pessoa que passou a vida a enganar e a esconder tem uma certa experiência na coisa. Sente à légua que algo foi escondido debaixo do tapete. Não é preciso dizer-se nada. Sente-se, sabe-se.
Por isso, a quem constantemente atira areia para os olhos, fica o aviso: eu sei. E ainda aqui estou. Feita parva. Mas consciente de que sou mesmo parva. Até me arrepender. Morta e desenterrada, autocadáver.
São 730 dias, 17.500 horas e 1.051.200 segundos dedicados a uma só pessoa.
Voltaria a repeti-los todos.
Voltaria a repeti-los todos.
"Por vezes a mentira exprime melhor do que a verdade aquilo que se passa na alma."
Máximo Gorky
Se se mente tanto, talvez a verdade seja mesmo a mentira. Talvez a mentira seja este preciso momento que se vive. Talvez se devam aproximar da mentira, se gostam assim tanto dela. Talvez devam deixar a verdade seguir ir frente procurar outras verdades. Talvez a mentira tenha de morrer sozinha para perceber no leito da morte que era a verdade que procurava. Talvez o arrependimento corroa a mentira por dentro a ponto de desejar ter sido sempre verdade.
Máximo Gorky
Se se mente tanto, talvez a verdade seja mesmo a mentira. Talvez a mentira seja este preciso momento que se vive. Talvez se devam aproximar da mentira, se gostam assim tanto dela. Talvez devam deixar a verdade seguir ir frente procurar outras verdades. Talvez a mentira tenha de morrer sozinha para perceber no leito da morte que era a verdade que procurava. Talvez o arrependimento corroa a mentira por dentro a ponto de desejar ter sido sempre verdade.
"E assim se ignora que a gorda a última coisa de que precisa é que lhe digam que é gorda, porque ela sabe que é gorda, ela sabe, não sabe ela outra coisa de manhã à noite, e ainda que durma, todos os pesadelos se mexem nessa condição a que não consegue fugir, acorda e não se quer ver, sou gorda, e não quer sair porque haverá sempre alguém que ao olhá-la, ainda que nada diga, é como se dissesse és gorda, daà que não se lembra a uma gorda que é gorda, pela sua absoluta maldosa inutilidade. (...)
Somos primeiro corpo, e no corpo nos concentramos no que tivermos de pior."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário" (2007)
Somos maldosos. Picamos os outros com aquilo que têm de diferente, aquilo que achamos ser o seu maior defeito. Não precisamos de dizer à gorda que tem peso a mais, ao aleijado que tem uma deficiência fÃsica, ao maneta que lhe falta uma mão, à magricela que se lhe vêm os ossos, ao careca que não tem cabelo, ao anão que é baixinho. Eles sabem-no e já têm de lidar com isso todos os dias. A nossa necessidade de superioridade traz ao de cima a pior mesquinhice.
Somos primeiro corpo, e no corpo nos concentramos no que tivermos de pior."
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "Canário" (2007)
Somos maldosos. Picamos os outros com aquilo que têm de diferente, aquilo que achamos ser o seu maior defeito. Não precisamos de dizer à gorda que tem peso a mais, ao aleijado que tem uma deficiência fÃsica, ao maneta que lhe falta uma mão, à magricela que se lhe vêm os ossos, ao careca que não tem cabelo, ao anão que é baixinho. Eles sabem-no e já têm de lidar com isso todos os dias. A nossa necessidade de superioridade traz ao de cima a pior mesquinhice.
... devia morrer. Porque desde o dia em que ele disse "Vamos lá a ver se acerto no velho", e acertou mesmo, tudo mudou. Porque desde o dia em que ele vinha da discoteca, cocainado e histérico, e lhe fez pontaria, tirou uma vida, e uma grande parte da nossa vida foi-se. Era o dia em que, avô, eu te ia levar a dar uma volta porque tinha acabado de tirar a carta. Foi um domingo que começou com o pior telefonema da minha vida. Para ti, era um bom domingo, foste andar de bicicleta com o teu clube, e de uma fila de 20, eras o último. Tiveste azar, tivemos azar, mas se não fosses tu era o puto que ia à tua frente, e que ainda hoje sente o peso de não ter sido ele, e todos os anos faz parte da comitiva que faz o troço onde tu morreste, avô. Sim, todos os anos és lembrado e homenageado por aqueles que iam contigo e muitos mais, que montam a bicicleta e se lembram de ti, um dos melhores ciclistas que conheceram. As centenas de quilómetros que fazias por dia não combinavam com os teus sessentas e tais, eras uma força da natureza, um atleta nato, um engenhocas, um construtor. E hoje não consigo montar a bicicleta porque foste tu que ma deste. Porque foste tu que me ensinaste a andar, que me fizeste cair e levantar, que me tiraste as rodinhas, que me enchias os pneus e punhas óleo e correntes novas. Que nos Natais me oferecias um cantil para a bike, do Benfica, cheio com Ferrero Rocher's e uma nota de 20. Que construiste uma bicicleta com 2 lugares e andávamos juntos, orgulhosos e felizes. Acolheste-me todos os dias na tua casa porque os meus pais não podiam. Ias ver os meus jogos e os meus treinos. Aliciavas-me a beber um copinho de vinho e gozávamos com as pessoas juntos. Tomávamos banhos de sol no quintal para ficarmos muito morenos. Jogávamos à bola e tantas vezes me arreliaste por partir coisas com ela e mandá-la para os telhados vizinhos, fazendo-te armar em super-homem para a ir buscar. Eras o Super-Homem. Passaram 6 anos. E ainda me vens à memória tantas, tantas vezes. E em cada uma delas, choro, e desejo que esse filho da puta morra. Acontece que ele é filho de gente importante e a justiça protege os endinheirados e populares. Tenho saudades tuas, e queria muito que me visses agora, que me conhecesses agora, queria mostrar-te a minha casa nova, contar-te do meu trabalho, fazer uma última volta de bike contigo, lado a lado, calados, apreciando o pôr do sol.
É difÃcil estar constantemente a ouvir não quando se passa a vida a dizer sim. Tem de se saber ouvir um não, assim como tem de se saber dizer um sim. E eu sei ambas as coisas, até demais. O prato da balança está demasiado inclinado para um dos lados. Assim o é quando muito se dá e pouco se recebe. Mas nem é por aÃ. Por mim, tudo bem. Faço tudo por quem gosto, sempre fiz, não vou mudar. É simplesmente um peso que ganhou forma e que tenho de puxar para me manter em andamento, para dar continuidade a tudo. Um nico de frustração, um quê depressivo, um nadinha de desilusão, um pedaço de nada, et voilá, os meus dias sem nada por que esperar e sem pressa de passar.
Eras um livro dentro de um cofre, guardado no centro da Terra, protegido por um dragão faminto e raivoso. Escavei até perder as forças, combati o dragão com a força da minha vontade de te chegar, passei décadas a experimentar combinações para abrir o cofre e ter-te nas mãos. E alcancei-te. Mas até hoje, não te abri. Continuo a suportar o peso das tuas páginas nos meus braços, sem vacilar, tremer, e muito menos te deixar cair. Sei que quando quiseres, livro, te abrirás para mim. E aà poderei ler-te ou, se estiveres em branco, escrever contigo uma história que será das mais belas que o mundo já viu. Até lá, só me resta esperar, torcendo para que as forças não me faltem. Não quero que toda esta aventura que passei para te encontrar tenha sido em vão. Abre-te para mim, deixa-me penetrar-te, confia, deixa-te levar.
"Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo."
Oscar Wilde
Sim. Já aqui foi dito que não é a falar que a gente se entende. Muitas vezes prefiro os longos silêncios partilhados na calma de uma tarde, do que as palavras sobressaltadas, mal escolhidas e mal interpretadas nos calores dos momentos.
"Suggested techniques for the marine to use in the avoidance of boredom and loneliness: Masturbation. Rereading of letters from unfaithful wives and girlfriends. Cleaning your rifle. Further masturbation. Rewiring Walkman. Arguing about religion and meaning of life. Discussing in detail, every woman the marine has ever fucked. Debating differences, such as Cuban vs. Mexican, Harleys vs. Hondas, left- vs. right-handed masturbation."
in Jarhead (2005)
in Jarhead (2005)